A Arte Literária de Graciliano Ramos

. 11 abril 2011


Romancista, contista, jornalista e político, Graciliano Ramos é um dos principais autores da segunda fase do Modernismo. Nasceu em 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo - AL, filho de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Até os nove anos, nunca tinha ido a uma escola, depois foi estudar em Maceió, e não chegou a cursar uma faculdade. Porém, dedicou-se ao jornalismo, sendo revisor de jornais no Rio de Janeiro, e foi prefeito de Palmeira dos Índios.

Suas obras são marcadas pela crítica, a luta pela sobrevivência, a aflição e os anseios do sertanejo. Com um estilo seco e sucinto, o autor não utilizava adjetivos, resultando numa escrita enxuta com objetividade e clareza, mensagem direta, sem rodeios. “Não desejo ser-te agradável; prefiro ser-te útil…”, afirmava o autor.

A ironia, a opressão e a dor são marcantes em suas obras, como demonstram as obras "São Bernardo", "Insônia", "Vidas secas", que recebeu o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA. “Caetés”, “São Bernardo” e “Angústia” representam a imersão do escritor na alma humana. Escritos em primeira pessoa, são narrativas que analisam o mundo interior, mas sem desprezar o contexto sociopolítico em que vive cada personagem. Há um contraste entre o eu íntimo e o ser social decorrendo em conflitos. O romance regional “Vidas Secas” escrito em terceira pessoa descreve as paisagens nordestinas, enfocando problemas como a seca, um tema ainda atual, o êxodo rural e o anonimato dos nordestinos. Na obra, sobressai a visão da realidade narrando o drama vivido pelos personagens.



Em 1936, sob a suspeita de ligação com o Partido Comunista Brasileiro é preso. Os sofrimentos e as humilhações dos companheiros presos no regime do Estado Novo são retratados em “Memórias do Cárcere”. “Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”, narrou o Mestre Graça, como era chamado pelos amigos. As narrativas autobiográficas são registros dos dramas pessoais como "Infância", em que se refere aos pais como: "um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura”.

Em 1945, filia-se ao comunismo, viajando por vários países socialistas. No início dos anos 50, já consagrado como romancista, falece de câncer na capital carioca em 20 de março de 1953. “Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne. Além disso, não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos”, assim se referia ao poder da literatura o “Mestre Graça”, que se tornou o mais consagrado escritor da Geração de 30 do Modernismo brasileiro.


Obras:

Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1934); Angústia (1936); Vidas secas (1938). Escreveu ainda parte do romance Brandão entre o mar e o amor, em parceria com Rachei de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Anibal Machado.

Conto: Insônia (1947).

Memórias: Infância (1945); Memórias do cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas tortas (1962). Crônica: Viventes das Alagoas (1962).

Literatura infanto-juvenil: A terra dos meninos pelados (1937); Histórias de Alexandre (1944); Histórias incompletas (1946).

por Karine Nascimento

Foto: Blog Portal da Poesia; Agência Literária