Priva(tiza)ções da Educação

. 11 maio 2011
As quatro universidades estaduais da Bahia - Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) - estão em greve e o prejuízo não atinge apenas os 60 mil alunos e os mais de quatro mil professores das instituições paralisadas. Essa é uma perda da educação, da sociedade. Assim como, essa é uma luta de todos nós, diferentemente do que pensa o Governo da Bahia.

A categoria reivindica a retirada da cláusula do acordo salarial 2010 que congela o salário dos professores pelos próximos quatro anos e a revogação do Decreto 12.583 que restringe o orçamento da universidade. O partido do governo do estado carrega no nome a causa trabalhista, mas isso parece que pouco difere para o governador Jaques Wagner. No último dia 28, determinou o corte salarial dos professores da Uesb, Uesc, Uefs. Os professores da Uneb não tiveram seus salários cortados, pois aderiram à greve dia 26 de abril. Tudo isso em meio a uma redução de gastos de R$ 1,1 bilhão, anunciada por Wagner em fevereiro deste ano. Contraditoriamente, o governo criou, recentemente, 143 cargos comissionados e mais quatro secretarias.

Antes de ingressar na universidade lia e assistia às notícias sobre greves de professores e, quase sempre, apoiava o movimento grevista, mas ao mesmo tempo me perguntava quem eram, de fato, os atingidos. Quando comecei minha graduação na UNEB, me envolvi com as reivindicações e os posicionamentos de alunos, funcionários, professores, governo e sociedade em geral. Enfrentei uma greve entre a minha aprovação e o meu ingresso na universidade e mais duas enquanto estudava.

O curso que fiz era pra ter nove semestres. Eu tive oito. Ou melhor, eu fiz nove semestres em exatos quatro anos, contabilizando o período grevista. Tanto que, pelo menos no campus da Uneb, em Juazeiro, onde me formei, não mais chamamos semestre, e sim período. Essa decisão de fazer três períodos em um ano objetivava regularizar o ano letivo. Na época, eu fui contra, mas seria uma excelente ideia para os futuros unebianos se tivéssemos a garantia de não haver mais greves nas universidades. E isso, ao contrário dos que muitos pensam, não é culpa do professor!

Para termos essa segurança, o governo tem que dignificar o funcionamento das universidades, entendendo-se por isso melhorias salariais, investimento em infraestrutura e materiais, realização de concursos e contratação de professores, incentivo à especialização docente, dentre outros. Lembro-me que, quando estudava na Uneb, uma das remendas feitas pela coordenação do curso era o remanejamento de disciplinas a cada semestre por falta de professor.

Diante de mais uma greve, ficamos, enquanto alunos ou recém aprovados em um processo seletivo, impacientes com a espera de um semestre ou até um ano, como foi o meu caso, para ingressar na universidade e incertos com a conclusão do curso.

Porém, me revolta e me causa indignação o descaso com a educação. Como diria Paulo Freire, “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Temo chegar o dia em que a educação pública superior tenha o mesmo destino que a educação pública básica; que apenas uma pequena parcela da sociedade, provavelmente as classes média e alta, tenha acesso a uma educação escolar de qualidade. Que Provões, Enades e mais quantos avaliadores de curso deste tipo forem criados, sejam, algum dia, eficazes e transparentes e mostrem a realidade da educação pública brasileira. E que ela mude!

Por Silvana Costa, jornalista em Multimeios, formada pelo Departamento de Ciências Humanas, UNEB, Campus III, Juazeiro-Ba.