A tradição de casamentos reais no Brasil

. 08 maio 2011
O casamento do Príncipe Wiliam, agora Duque de Cambridge, com Catherine Middleton na Abadia de Westminster em Londres foi assistido por dois bilhões de pessoas em todo mundo. Canais de televisão, sites e blogs fizeram comentários sobre a realeza européia e sobre o enlace, considerado do século devido a origem plebeia da noiva. Poucas pessoas sabem, mas o Brasil também já celebrou casamentos reais no período de 1822 até 1889. A população do Rio de Janeiro foi assistir às uniões de D. Pedro I, em 1817, com a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, e da Princesa Amélia de Leuchtemberg, em 1839.

Já o matrimônio de D. Pedro II com a Princesa D. Teresa Cristina das Duas Sicílias teve um fato inusitado. O noivo se desiludiu ao perceber que sua noiva era diferente da que estava no retrato. Em 1864, os brasileiros testemunharam ainda as uniões da Princesa D. Isabel com Gastão de Orleans, o conde d’Eu, e de D. Leopoldina com Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha.

Contudo, ao longo dos anos, uma espécie de “esquecimento histórico” foi construído em torno da dinastia brasileira, principalmente depois do golpe de 15 de novembro de 1889, que levaria a instituir a República. Assim, os casamentos reais deixaram de ser comentados pela própria História e pelos meios de comunicação. Após a promulgação da lei de banimento em 1889, a Família Imperial se instalou em Portugal e depois na França. Com o falecimento de D. Pedro II, a Princesa Isabel passou a ser Chefe da Casa Imperial do Brasil e tratada pelos monarquistas como Imperatriz. De sua união com o conde d’Eu, nasceram os filhos D. Pedro de Alcântara, D. Luís e D. Antônio.



Seja pelo desejo de se casar ou desinteresse pela situação política do Brasil, D. Pedro de Alcântara renunciou aos direitos de sucessão ao trono brasileiro em favor de seu irmão, e se casou com a nobre Elisabeth de Dobrzensky de Dobrzenicz na cidade francesa de Versalhes, em 14 de novembro de 1908. A partir daí, recaíram em D.Luís as esperanças dos monarquistas brasileiros na luta pela restauração do antigo Império.

Atendendo às expectativas da mãe, D. Luís se casou com a Princesa D. Maria Pia das Duas Sicílias, filha do Conde de Caserta, Chefe da Casa Real das Duas Sicílias, descendentes diretos dos Bourbons da França e da Espanha. O casamento aconteceu em Cannes, em 4 de novembro de 1908. Da união, nasceram D. Pedro Henrique, D. Luís Gastão e D. Pia Maria.

Porém, D. Luís faleceu prematuramente em 1920, e D. Antonio morreu no final da Primeira Guerra Mundial Guerra, o que deixou o movimento monarquista “órfão”, já que a Princesa Isabel havia falecido em 1921 e D. Pedro Henrique tinha apenas doze anos.






Novos Casamentos
Da união de D. Pedro de Alcântara com D. Elisabeth, nasceram os filhos D. Isabel, D. Pedro Gastão, D. Maria Francisca, D. João e D. Teresa. D. Isabel casou-se em 1931 com Henri de Orleans, Conde de Paris, e posteriormente Chefe da Casa Real da França, sendo aclamada pelos monarquistas franceses como Rainha da França. D. Pedro Gastão se uniu, no ano de 1944, na Sevilha com a princesa espanhola D. Esperanza, tia do Rei da Espanha D. Juan Carlos. E D. Maria Francisca se casou em Petrópolis, em 1942 com D. Duarte, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real de Portugal. À época, o acontecimento contou com a presença da elite política do Brasil, inclusive do presidente Getúlio Vargas. Dos filhos de D. Pedro Gastão e D. Esperanza, foi celebrada a união, em 1972, de D. Maria da Glória com o Príncipe Alexandre da Iugoslávia, Chefe da Casa Real da Sérvia, que reuniu boa parte da realeza européia.

Com a morte da Princesa Isabel, o filho primogênito de D. Luís passou a ser Chefe da Casa Imperial do Brasil.Porém, mesmo com a revogação da lei do banimento em 1921, D. Pedro Henrique só veio morar no Brasil em 1945. Sua mãe desejava que tivesse uma educação melhor e que contraísse um casamento à altura. Em 19 de setembro de 1937, ele se casou com a princesa alemã D. Maria Elisabeth da Baviera, neta do último rei da Baviera, no Castelo de Nymphemburgo. Aqui, eles se instalaram em Petrópolis, Rio de Janeiro, Paraná e no interior do Rio de Janeiro, na cidade de Vassouras, o que gerou o termo criado pela imprensa de “Ramo de Petrópolis” e “Ramo de Vassouras”, já que os descendentes da Princesa Isabel permaneceram separados e cada um alegando ser o legítimo sucessor da monarquia.

De sua união com D. Maria Elisabeth, D. Pedro Henrique teve doze filhos, três permaneceram solteiros. D. Luís, atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, D. Bertrand, e D. Isabel renunciaram aos seus direitos de sucessão por se casarem com pessoas oriundas da antiga aristocracia brasileira, mas não possuíam tratamento de Alteza.

Expectativas dos Monarquistas
Mas a continuidade da dinastia Orleans e Bragança ficou garantida através de duas uniões em 1981. Em 10 de março, no Rio de Janeiro, acompanhados pelo coral das Meninas Cantoras de Petrópolis, D. Eleonora se casou com o Príncipe Michel de Ligne, filho de Antonio de Ligne, Príncipe de Amblise e de Épinoy e da Princesa Alix de Luxemburgo. E em 26 de setembro, D. Antonio casou com a irmã de Michel, a Princesa Cristina de Ligne, na Igreja de São Pedro de Beloeil, no interior da Bélgica. Os Ligne são uma antiga casa principesca e a mais importante na Bélgica, logo após a Família Real. Da união, nasceram D. Pedro Luís, falecido há dois anos; D. Amélia; D. Rafael, e D. Maria Gabriela.

E é em D. Rafael, jovem de 25 anos, que renascem as expectativas dos monarquistas. Quarto na linha de sucessão, logo após seus tios e seu pai, o príncipe se tornou alvo de atenções após o falecimento do irmão no trágico acidente da Air France, em 2009. Engenheiro de Produção formado pela PUC-RJ, fala fluentemente francês, inglês e espanhol. Mora atualmente no Rio de Janeiro na casa da avó, joga golfe e é apaixonado por futebol e pelo Fluminense. Esteve ano passado em Salvador em uma visita organizada pelos membros da Associação da Nobreza Histórica do Brasil.

A expectativa é que ele se case com alguma princesa européia e católica, já que essa é a tradição da Família Imperial. Talvez nos próximos anos, ocorra mais uma união imperial, obviamente sem o mesmo luxo e glamour da realeza inglesa, entretanto será um momento para refletir sobre a monarquia brasileira e suas tradições.

por Alinne Suanne, graduanda em Jornalismo em Multimeios e graduada em História, da UPE, e Rafael Cruz, graduado em História, da UPE, campus Petrolina. Reportagem distribuída pela Agência MultiCiência para o Gazzeta do São Francisco, publicada na edição do dia 5 de maio.