Pesquisa identifica plantas nativas da caatinga

. 23 setembro 2011
Único bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga é um patrimônio genético rico e variado. A vegetação é tipicamente xerófita, com plantas adaptadas ao ambiente de clima seco e chuvas irregulares. Entre as principais espécies de árvores, destacam-se o juazeiro (Ziziphus Joazeiro Mart.), o angico (Anadenanthera macrocarpa (Benth) Brenan), a favela (Cnidoscolus phyllacanthus), e, entre as cactáceas, o xiquexique e o mandacaru. Esse bioma possui características singulares para a convivência com o semiárido como folhas pequenas e espinhos para diminuir a evaporação, além de raízes que se aprofundam bastante no solo para buscar lençóis subterrâneos de água.


Contudo, poucos agricultores têm conhecimento da variedade de espécies nativas da caatinga, como as plantas forrageiras utilizadas na suplementação dos animais, como o “estilosantes” (nome científico Stylosanthes spp.). A planta pode ser usada em culturas consorciadas e na recuperação de solos degradados, além se ser um banco de proteínas na alimentação dos caprinos e ovinos.


Para conhecer essa variedade genética, o doutor em Zootecnia, Claudio Mistura, professor do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS), da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus III em Juazeiro-Ba, desenvolve estudos sobre o estilosantes.
Segundo o professor, as leguminosas forrageiras apresentam propriedade nutritiva superior às gramíneas. “A qualidade protéica varia de 13 a 23% entre os diferentes acessos de estilosantes nativos da caatingaJustificar, enquanto o capim-buffel, gramínea forrageira tem valor nutritivo de 4 a 5% no período seco e de 8 a 10% no chuvoso”, esclarece o pesquisador.
Banco de Germoplasma - A partir do levantamento feito nas cidades baianas de Juazeiro, Sobradinho, Sento Sé, Remanso, Casa Nova, Campo Alegre de Lourdes, Curaçá e Canudos, o pesquisador está organizando um “Banco Ativo de Germoplasma” (BAGs), onde estão cultivados os diferentes acessos de Stylosanthes spp. Coletados na microrregião de Juazeiro-BA, com a finalidade de selecionar espécies forrageiras adaptadas às condições edafoclimáticas da região semiárida. Neste caso, são avaliados tanto a produção de forragem como o valor nutritivo destas plantas, além de conservar o patrimônio genético local.


Para compor o banco, é realizada a coleta de acessos de Stylosanthes spp. e estruturação dos BAGs. Em seguida, é feita a multiplicação do material coletado, as espécies estão em processo de classificação. Após estas etapas, as “mudas” são plantadas em áreas previamente estabelecidas. Ao final, é feita uma avaliação quali-quantitativa dos materiais preservados e da produção de semente dos acessos avaliados.


As plantas são cultivadas nas áreas experimentais das instituições: Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB), na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e na Embrapa Semiárido, em Petrolina-PE.


Para o pesquisador, esse estudo pretende beneficiar o pequeno produtor, melhorando a pastagem. “O estilosantes nativo possui o ciclo vegetativo maior e com qualidade superior, devido o sistema radicular mais profundo, o que favorece a captação de água e nutrientes”, explica o professor. E acrescenta ainda que, além da qualidade protéica superior às gramíneas, principalmente do capim-buffel (Cenchrus ciliaris), a leguminosa gera um melhor desempenho do animal e contribui com o pequeno produtor, por utilizar o estilosantes que é resistente à seca e adaptável ao solo de baixa fertilidade.


A estruturação da pesquisa, além de contribuir no conhecimento das plantas nativas da região, colabora na formação de novos pesquisadores que participam do projeto. O estudante de Engenharia Agronômica da UNEB, Bruno Augusto de Souza Almeida, considera importante identificar as espécies nativas da região, pois há a possibilidade de preservar o bioma, identificando-as e depois levando esse conhecimento para o produtor. “É complicado fazer o melhoramento genético, demora muito, mas estamos trabalhando para o futuro”, explicou o discente.
A pesquisa do melhoramento genético, com o “Banco de Germoplasma Ativo” tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESP).


Mais informações:


Glossário:
Angico (Anadenanthera macrocarpa (Benth) Brenan): É uma espécie heliófila, da família Mimosaceae. Floresce nos meses de setembro a novembro, a maturação dos frutos inicia-se ao final do mês de agosto e setembro. Seu crescimento é rápido, podendo atingir produtividade de até 25 m3/ha/ano. É Conhecido também por: angico-vermelho, angico-da-mata, angico-verdadeiro, angico-amarelo, angico-cedro, angico-rosa, angico-de-curtume, angico-branco.
Banco de Germoplasma Ativo: são unidades conservadoras de material genético uso imediato, têm por objetivos efetuar a caracterização fenotípica-agronômica mínima e a multiplicação com manutenção da identidade genética que permita escolher os caracteres de interesse na obtenção de novos cultivares.
Capim-buffel do gênero (Cenchrus ciliaris): É uma gramínea forrageira, que apresenta grande adaptação às condições do clima e solo do semiárido nordestino, com boa capacidade de rebrota, aceitabilidade pelos ruminantes e digestibilidade, podendo alcançar até 1,5 m de altura.
Favela (Cnidoscolus phyllacanthus): Conhecido também por faveleira ou faveleiro, planta xerófila, nativa do Nordeste de pequeno/médio porte, 3-5m de altura, as flores são alvas, agrupadas em pequenos cachos, ou auxiliares. As sementes são ricas em óleo alimentício. O feno é produzido com folhas e ponteiros com um valor protéico de 18,10%.
Juazeiro (Ziziphus Joazeiro Mart.): é uma xerófila de folhagem perene, que renova anualmente as folhas, em curto espaço de tempo, geralmente durante o mês de outubro. A floração ocorre nos meses de novembro e dezembro, o fruto maduro é rico em vitamina C, com maturação nos meses de junho e julho. O juazeiro poder utilizado na alimentação de caprinos e ovinos como um recurso alimentar alternativo durante a época seca.



Por: Karine Nascimento (texto). Fotos de: Lorena Santiago e Karine Nascimento
Matéria publicada na Agência de Notícias em C&T - Ciência e Cultura