Caboclinho, o Pérola Negra do futebol juazeirense

. 19 janeiro 2012
Quando a primeira partida do futebol amador de Juazeiro aconteceu em 1917, não era possível imaginar que, anos mais tarde, grandes craques surgiriam daqueles campos de terra batida. Um deles é um juazeirense nascido em 1933. Pelo nome de batismo, Bartolomeu Brito Monteiro, pode ser que poucos o reconheçam. Dentro das quatro linhas que dividem o gramado, ele fez história com o apelido: Caboclinho.

Em agosto de 2010, aos 77 anos, o preparo físico já não era o mesmo de outrora, mas o brilho nos olhos e a força da fala retratavam o orgulho de Caboclinho por sua história dentro do esporte. A perda do pai em 1941 fez com que o jovem Bartolomeu começasse a trilhar a carreira vitoriosa no futebol ainda muito cedo, para ajudar a manter a família. Em 1943, aos 10 anos de idade, ele assinou o seu primeiro contrato. “Parece até brincadeira, mas aos 10 anos eu assinei o meu primeiro contrato. O rapaz era dono de um armazém e, naquela época, me dava mil e quinhentos e uma cesta básica”, recorda.

Seu primeiro registro na Liga Desportiva Juazeirense (LDJ) foi em 1950, quando atuava pelo time do Olaria, onde ficou por sete anos. Em 1958, muda para o time da Companhia de navegação, o Fluísco, atualmente conhecido como Carranca. Cinco anos depois, parte para Cidade de Senhor do Bonfim, a 200 km de Juazeiro, para defender o Guanabara, em 1964 retorna à sua terra natal e vai jogar na vizinha cidade pernambucana de Petrolina, pelo América. O marcante dentro dessas idas e vindas de Caboclinho, é que em todos os clubes em que atuou teve o prazer de sagrar-se campeão.


Com o talento comparado ao de uma jóia rara, o meia-esquerda recebeu do comentarista esportivo Herbet Mouze, o apelido de Pérola Negra do futebol Juazeirense. “Pérola Negra porque a pérola é uma jóia rara e difícil de ser encontrada, assim como o Caboclinho” , conta o comentarista.


Em 1969, após colecionar diversos títulos e por diferentes equipes do amador, Caboclinho decide enfrentar uma nova jornada dentro do futebol, agora como treinador. Por ironia do destino, o passado ressurgia na vida do Pérola Negra. A sua estréia como treinador seria no primeiro time que defendeu como jogador e com a ajuda do seu primeiro técnico. “Em 1950, Padeiro me carregou para o Olaria como atleta e em 1969, ele me carregou de novo para o Olaria, mas agora como treinador”, lembra Caboclinho.


Conhecedor do bom futebol, o técnico de apelido curioso via que Caboclinho poderia ser um bom comandante, porém, acreditava que mesmo aos 36 anos, o meia-esquerda habilidoso, ainda poderia encantar a torcida juazeirense. “Ele queria que eu ficasse como jogador e treinador. Aí, em 70 eu fui campeão e em 71 tomamos conta do time como treinador”, explica.


A carreira como jogador de futebol teve fim em 1975 durante um amistoso. Aos 42 anos, o Pérola Negra não precisou mais do que 15 minutos para mudar a história da partida. “Nós estávamos perdendo por 2 x0, aí eu disse: me bote nesse jogo. Ele me botou. E o que aconteceu? Nesses 15 minutos nós empatamos. Eu digo que nessa partida amistosa, eu empatei o jogo. Desse dia pra cá, encerrei a minha carreira como jogador de futebol”.


Das boas lembranças do futebol amador juazeirense, Caboclinho recorda a animação das torcidas no Estádio Adauto Moraes durante os jogos, principalmente os clássicos entre Olaria e Veneza. “Quando chegava para a partida a gente via aquela garotada toda em cima da arquibancada. Infelizmente as arquibancadas eram de madeira, mas enchia mesmo. Cada movimentação que o atleta fazia dentro do campo dava para sentir a força da torcida do lado de fora”, conta.


Na beira do gramado, Caboclinho se orgulha de ter treinado grandes nomes do futebol Brasileiro, como Nunes, campeão mundial pelo Flamengo em 1982 e Daniel Alves, jogador do Barcelona da Espanha. O velho boleiro costuma dizer que Juazeiro é terra de craques. “Na minha época, tinha jogador de qualidade. Antes de mim, nem se fala e depois vieram outros garotos de muito valor. Em Juazeiro não se pode fazer comparação entre um jogador e outro; é um mundo de craques”, afirma o mestre.


Craque numa época em que o futebol era jogado por amor, Caboclinho não fez fortuna e chegou até a recusar convites de times profissionais, como Flamengo e Vitória. Mesmo assim, ele faz questão de ressaltar a importância do esporte na sua vida. “O futebol me deu tudo, deu a vontade de ser homem. Mas eu corri atrás de ter uma profissão, sou pedreiro. A minha casa quem fez foi eu”, conclui apontando a residência, o seu grande gol marcado com as mãos. Hoje, 19 de janeiro de 2012, Caboclinho, um dos maiores craques de Juazeiro, faleceu, aos 78 anos.


Por Emerson Rocha, texto produzido em agosto de 2010.


Foto divulgação: Blog Esporte Total