Um poeta e cantador na rota São Paulo-Sertão

. 28 julho 2014

O poeta e cantador pernambucano Aldy Carvalho é filho de Petrolina e costuma carregar na ponta da língua o bordão: “sai do sertão, mas o sertão não saiu de mim’’. Desde que rumou para São Paulo, no final nos anos 80, fez um pacto para melhorar de vida e realizar seus sonhos através da arte, sem perder as raízes com o universo sertanejo e com as águas do rio São Francisco, onde pescou e se banhou na infância. Quando debandou pro “sudeste maravilha” com a família, sabia que ia se esbaldar com uma rotina bem diferente da tranquilidade que vivia. Passados mais de vinte anos, o artista mantém a rotina do lá e cá, mantendo o elo com a terra natal para onde viaja todos os anos, até duas vezes se for preciso.
 
 
 

O retrato dessa paixão pelas coisas sertanejas está em todas as canções e letras do seu novo Cd Cantos d’Algibeira, que está lançando em que traduz um diálogo versátil sobre coisas e causos do Nordeste. “Em São Paulo, muitos falam que o sertão não saiu de você, mas é de forma pejorativa. Já eu digo isso de maneira poética e romântica. Quando você se ausenta da sua aldeia é que enxerga melhor seu território”, defende o poeta que entrou para o mundo da arte com apoio do pai (já falecido) que lhe mostrou o horizonte das cantorias e literatura clássica nordestina. Na capital paulista, onde mora e trabalha, Aldy sempre fincou sua bandeira como bom pernambucano.
 
“Meu ofício é elevar a arte e aí aproveito lá pra mostrar que Pernambuco é um dos estados mais ricos do país no campo da música e poesia popular. Aos poucos vou expondo as diversas linguagens de nossos estados vizinhos”, diz ele, que sempre flertou com a obra de Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elomar e outros compositores. Ainda na infância, durante as festas religiosas e nas feiras livres, Aldy começou perceber a beleza dos versos nas canções de Gonzagão e nos repentes dos cantadores de viola. Em ocasiões diversas, o pai sempre levava artistas para tomar café e cantar em sua casa. Depois vieram os festivais de música e lá estava ele, mostrando suas primeiras criações ainda na época em que havia cinema na cidade.
 
Quando está em São Paulo, onde passa a maior parte do ano, o compositor sabe bem dosar a trilha sonora. “Comecei essa carreira com o intuito de ser um cantador e o meu estilo sou eu que traço. É iminentemente de raiz nordestina porque carrego na bagagem cantorias, emboladas, cocos, martelos, toadas, baiões e xotes tendo como pano de fundo o panorama da caatinga, com ou sem chuva. “Os paulistas e paulistanos respeitam e aprendem com as verdades que estão na minha vida”, observa.

 
Na maior “selva de pedra” do país, como ele chama, está sempre buscando editais voltados paras projetos em universidades e espaços culturais. Há cinco anos, faz parte de um grupo que movimenta a Caravana do Cordel, envolvendo diversas vertentes da música e literatura. Falando em cordel, o pernambucano lançou dois: A ganância dos preguiçosos e No reino dos imbuzeiros, sendo que o segundo foi premido pelo Ministério da Cultura.
 
No seu Cd anterior, batizado de Alforje, Aldy que também chegou a gravar na era do vinil, investiu na memória e fez uma analogia com o do vaqueiro. “Esse personagem é tropeiro e carrega todas as coisas dentro do alforje”. Já em Cantos d’Algibeira que pretende divulgar em todas as regiões do país, Aldy acrescenta que é um complemento do anterior com novas histórias. “A algibeira é a bolsa que se carrega presa à cintura enquanto o alforje se coloca no lombo do burro”, sintetiza. Para o poeta e cantador, que cumpriu sua temporada junina na região, seja onde for, sua missão é carregar o sertão junto com a arte “para que outras pessoas saibam que a caatinga também é parte do paraíso”.
 
Da Redação/Multiciência