Minha vida de repórter, meu olhar sobre Eduardo Campos

. 14 agosto 2014
Por Emanuel Andrade

Quando jovem estudante de jornalismo no início dos anos 90, lembro-me certa vez, que fui ao Diário de Pernambuco para falar com o escritor e conterrâneo Raimundo Carrero. Na portaria de acesso à redação, apenas a secretária. Em poucos minutos, chega um homem elegante com pastas nas mãos. Cordial, deu boa tarde a mim e à funcionaria. Ficamos ali por alguns segundos aguardando as pessoas com quem queríamos falar. Ele era Eduardo Campos. Foi a primeira vez que o vi na vida.
Eduardo com a ex-prefeita de Salgueiro, Creuza Pereira.
 
No começo de minha carreira, ainda dando os primeiros passos pós-Universidade Católica de Pernambuco, onde fiz jornalismo com outros colegas que estiveram perto direta ou indiretamente dessa história, lembro ter estado na casa de Eduardo Campos em companhia da ex-prefeita de Salgueiro(PE), minha terra natal, Creuza Pereira, educadora comprometida com os ideais socialistas de seu avô Miguel Arraes e com o jovem socialista que ali alçava voo na carreira política já em alto grau.
 
Em sua residência fomos recebidos com carinho, sinceridade, respeito e cordialidade. Tomamos café juntos. Ainda lembro do suco de acerola que ele elogiou após tomá-lo. Os assuntos foram vários sobre política e sobre Sertão. Em 2006, como repórter fiz diversas reportagens para o Jornal do Commercio, de Recife, durante a campanha eleitoral ao governo do Estado. Naquele ano, passei a ter maior aproximação com Campos. Participei de diversas entrevistas em rádios e em coletivas. Sempre com o apoio de seu secretário de Imprensa e amigo que fiz, Evaldo Costa, integrante do primeiro escalão do governo.
 
Já me sentia familiarizado, tanto que em ocasiões diferentes ele fazia tiradas de humor comigo, mas com respeito. Fosse em Petrolina, Salgueiro, Araripina, Serra Talhada... No Palácio das Princesas também tive acesso ao ex-governador. Sempre a mesma pessoa e cordialidade. Nunca deixou de responder uma só das perguntas que fiz como repórter, algumas até delicadas.
 
Em 2010, tive a oportunidade de tomar outro café perto do governador quando da abertura do Galo da Madrugada, ano em que o carnavalesco Mestre Jaime (também meu conterrâneo) criador do bloco A Bicharada era o homenageado da folia na capital. Outro momento de cordialidade, apreço e consideração pelo artista e para com os amigos salgueirenses que estavam por perto. E neste dia, tivemos o apreço e prestígio da presença do escritor Ariano Suassuna que nos deixou recentemente.
 
Posso dizer que tenho orgulho de ter estado perto da história em vida do ex-governador. De ter acompanhado sua trajetória por vários ângulos. O mesmo orgulho de ter estado com o ex-presidente Lula por várias vezes e ter, até de forma intrometida e reservada, acendido um charuto para ele em meio a uma conversa isolada. Orgulho duplo: dois conterrâneos pernambucanos, dois homens que de alguma forma contribuíram com nosso país em políticas públicas importantes.
 
E aí fui lembrando que como estudante cheguei a entrevistar Miguel Arraes ainda na Casa do Estudante, onde morei na capital, a ex-deputada Cristina Tavares (que batiza um dos prêmios mais importantes do jornalismo), entre outros. Ainda acompanhei de perto o velório do ex-ministro Marcos Freire, morto em um acidente de avião que ainda hoje nos deixa uma lacuna sobre a procedência real ou sabotagem do trágico.
 
Enfim, nos últimos 20 anos estive por perto do horizonte da política brasileira (incluindo 4 coberturas presidenciais). Essas linhas que escrevo é apenas uma reflexão, não diria crônica, artigo.... Em vez de falar em gênero textual, falo da multiplicidade de capítulos que a vida nos impõe. Posso dizer que tenho orgulho de ter apertado as mãos de Eduardo Campos. E lamento pelo desaparecimento precoce desse jovem que ainda tinha muito a fazer por um país ainda em busca de rumos mais coerentes e de justiça. Independente do fazer futurista interrompido, tenho certeza de que morreu na coerente intenção. Deus conforte sua família e das demais vítimas que desapareceram no mesmo desastre aéreo. A vida é tão rara, é tão bela e nos prega surpresas incontestáveis!