Casos de câncer devem superar o diagnóstico de doenças cardiovasculares

. 12 outubro 2014

Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, até o ano de 2035, o câncer vai ultrapassar as doenças cardiovasculares e infecciosas. Em Petrolina, sertão de Pernambuco, o número de pessoas diagnosticadas com algum tipo de câncer no primeiro semestre deste ano é de 4.890, segundo a Associação Petrolinense de Amparo à Maternidade (Apami) que administra um hospital para tratar esses pacientes.


Entre os principais tipos da doença diagnosticadas na região do Vale do São Francisco, estão o câncer de mama, próstata e ovário. De acordo com o médico e diretor Centro de Oncologia da instituição filantrópica, Gray Portela, o tabagismo, a obesidade e as doenças sexualmente transmissíveis (DST) são alguns dos fatores que podem provocar a patologia. “O índice dessa doença aumentou não só em Petrolina e região, como em todo o país”, ressalta o oncologista.

A professora Maria Janine Barbosa, 30, mãe de três filhos, descobriu no início do ano que era portadora do câncer de ovário – apontado por especialista como o quinto tipo da doença mais comum entre as mulheres e que causa mais mortes que qualquer outro tipo no órgão reprodutor feminino. A causa ainda é desconhecida.

Ela foi surpreendida com o diagnóstico após a realização de exames periódicos para tratar de um cisto (uma bolsa de liquido que se forma dentro do ovário). “Quando descobri fiquei muito triste e abalada porque muitas pessoas acreditam que as mulheres não fazem exames periódicos, mas esse não foi o meu caso”, comentou Janine.

As mulheres também enfrentam outro tipo de câncer muito comum que também acomete os homens, mas em escala muito inferior: o de mama. O índice também é elevado no Vale do São Francisco, segundo relatório da Apami. A consultora de cosmético, Maria do Socorro, 66, descobriu no ano passado que tinha a doença por meio do autoexame. Antes, ela não conhecia o método e aprendeu durante uma palestra que assistiu em Petrolina sobre a importância da mulher e a prevenção a partir do autoexame. “Quando o fiz pela primeira vez acabei descobrindo o nódulo na mama. Procurei um médico especialista, fiz exames, descobri que realmente estava com a doença e que precisava ser tratada”, disse a consultora.

Dados da Secretaria de Saúde do município de Petrolina, revelam que os índices de morte causados por este tipo de câncer só em 2013 chegaram a 225. Até maio deste ano foram registrados mais de 70 casos. O oncologista Gray Portela alerta as mulheres ainda na juventude para se prevenir e adotar hábitos e cuidados continuados que devem ser feitas para evitar a doença.  “É preciso evitar os fatores de risco como o tabagismo e as bebidas alcoólicas. É importante emagrecer, fazer exercícios físicos, praticar sexo seguro e ter uma alimentação saudável, rica em alimentos naturais e evitar os industrializados”, acrescenta Portela.

O sorriso, o lenço e a garra de Gerciana

Eram 19h quando Gerciana Brito de Almeida, 33, se arrumava em frente ao espelho de sua sala para tirar uma foto. Vaidosa, a consultora de cosméticos, antes de posar para a câmera, foi até o quarto buscar um dos seus acessórios favoritos: um lenço de cor azul. Algumas mulheres usam a peça no pescoço como símbolo de moda para embelezar o visual. Para ela, o acessório vai além dessa simbologia e se tornou sinônimo de segurança quando o expõe na cabeça para encobrir os poucos fios de cabelos, deixados pela quimioterapia, desde que a paciente descobriu, há dois anos, ser portadora de metástase - um tipo de câncer que se espalha para outros órgãos do corpo.
Consultora de cosméticos, Gerciana mora em Juazeiro (BA), com a filha Ana Júlia Britto, 11, e com a avó Cecília Maria de Brito,70. O pesadelo começou em agosto de 2012 quando ela descobriu o primeiro tumor na mama esquerda. “Fiz um autoexame e descobri um pequeno nódulo no seio. Procurei um médico e realizei uma ultrassonografia. Nesse período de tratamento perdi minha mãe. Foi um momento difícil”, contou.
Depois do diagnóstico, o primeiro choque foi com a queda completa dos cabelos principalmente para quem se mantinha vaidosa ao cuidar constantemente das madeixas como a maioria das mulheres. “Meu cabelo caiu na primeira aplicação de quimioterapia. O maior problema não foi a queda do cabelo que eu já esperava, mas também dos cílios e as sobrancelhas”, observou a jovem.

O câncer de mama lhe trouxe outras complicações, oito meses após descobrir a metástase. Gerciana foi submetida à retirada da mama. “Perder a mama foi terrível. Parecia que a ficha não tinha caído. Fiz oito sessões de quimioterapia e tive um tempo para pensar. Em nenhum momento passou pela minha cabeça o desejo de desistir da cirurgia, pois pensava muito em minha filha. Quando o dia foi se aproximando fiquei triste e me questionava se realmente precisava passar por isso”.

A doença lhe atingiu outros órgãos até que em julho do ano passado a consultora descobriu três tumores no corpo. Um exame de imagem denominado de Pet Scan revelou que ela tinha câncer no pulmão, nos ossos e na cabeça. Sem dispensar o sorriso no rosto, não desanimou ao buscar o processo de recuperação de maneira positiva. “Vi que esse câncer não veio para me matar ou castigar. Existem milhões de pessoas no mundo e aconteceu comigo, mas na realidade nunca reclamei. Hoje me sinto mais forte, segura e amadurecida”, argumentou.

Apoio Familiar
O apoio da família foi fundamental no processo de recuperação. Além dos amigos, a consultora contou com a ajuda constante da irmã Jeana Santana. “Minha família sempre foi unida. Minha irmã deixou filhos e marido aqui para me acompanhar nas consultas e viagens para Recife. Se ela não pudesse ir com certeza iria outra pessoa”, disse.

Gerciana e a filha Ana Júlia

Antes de descobrir a doença Gerciana gostava de sair nos fins de semana com as amigas para as festas. “Adorava uma noitada, era boemia. A doença veio para me disciplinar”. Mesmo com a carga psicológica delicada de quem carrega uma doença que desgasta o emocional e a saúde física, hoje a rotina da jovem não mudou. Sair com os amigos, filha e irmã para fazer compras ou ir ao cinema, funciona como uma terapia e a deixa motivada para lutar contra a metástase.

Para ela, a filha Ana Júlia teve uma importância significativa no convívio com a doença. Emocionada, ela conta que buscou forças na menina para continuar lutando contra a doença. “A Júlia me ajudou muito nesse processo. Ela lembrava o horário dos remédios e da minha alimentação. Tinha um remédio que eu tomava 1h da manhã e quando eu não conseguia acordar por causa da quimio, mesmo assim ela me dava o remédio. Tudo que faço sempre penso nela porque quero ver a minha filha crescer feliz”, afirma.

A Redação do MultiCiência recebeu a informação de que, infelizmente, Gerciana faleceu no dia 26 de novembro. Desejamos muita paz e tranquilidade a sua família. 

Reportagem de Brenda Marques e Sheila Feitosa para Agência MultiCiência