“Juazeiro-Petrolina virou o hino dos barzinhos em todo Nordeste”

. 02 novembro 2014

No cenário e no elenco dos grandes compositores do Nordeste, não pode faltar o pernambucano Jorge de Altinho. Ele já escreveu seu nome no panorama do forró, do xote e do baião. Quando criança, seu pai tocava muito Luiz Gonzaga em casa. Virou fã e, depois já profissional, se viu dentro de um estúdio gravando com o Rei do Baião. Jorge foi um dos primeiros artistas a inovar no forró quando inseriu instrumentos de sopros  fazendo a fusão com sanfona. Na primeira metade dos anos 80, foi quem mais fez shows e vendeu discos. Era um sucesso atrás do outro. Se o leitor não consegue lembrar-se de seus sucessos, basta citar só um de tantos: Petrolina-Juazeiro. Não há quem não saiba o refrão: “Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina”. Nascido em Olinda(PE), o cantor foi criado em Altinho. Morou em Recife e em Petrolina. Com mais de 30 anos de carreira, está lançando seu novo trabalho ‘Melhor Assim’. De passagem pela região, concedeu entrevista à repórter Cleilma Silva para o MultiCiência.

Multiciência- Você está lançando novo trabalho intitulado de ‘Melhor Assim’. O que seu público pode esperar?  Tem a mesma fórmula dos outros trabalhos de sucesso?
Jorge de Altino- Na realidade, acabamos de gravar o novo DVD, o segundo da carreira, que será lançado oficialmente em janeiro de 2015. Mas as pessoas me cobravam um trabalho novo, então, eu resolvi extrair seis músicas desse DVD. São cinco músicas assinadas por mim e uma por Renato Carvalho, um ótimo compositor de Caruaru. Por sinal é a que dá título ao trabalho ‘Melhor assim’.


M-Você foi responsável por introduzir os metais no forró. Como surgiu a ideia e qual foi a intenção de inovar?
JA -Essa galera nova que acompanha Garota Safada e Aviões, nem sabe dessa informação, mas sou pioneiro a introduzir os metais no forró no comecinho da minha carreira nos anos 80. Fiz essa mistura gostosa dos metais dialogando com os elementos básicos da música nordestina como o triângulo, a zabumba e a sanfona, além de inserir a bateria e a guitarra. Também passei a escrever minhas composições com letras e histórias mais urbanas. Minha intenção era fazer com que  o forró não ficasse só no mês de junho, mas tocasse o ano inteiro.


M- Com certeza houve algum impacto, mas, você enfrentou alguma dificuldade ou barreira no mercado?
JA- No começo tínhamos muita dificuldade porque as FMs estavam começando a entrar no Brasil e só tocava MPB. A música regional não entrava com facilidade na programação e aí pensei em driblar um pouco. Com essa introdução do metal, poderia levar a música nordestina como popular brasileira. Graças a Deus, deu certo. Conseguimos entrar no cenário brasileiro com lugar garantido. Fizemos muitos programas pelo país nas principais emissoras de TV. Assim,  popularizamos a música nordestina.


M- Como a música surgiu na sua vida?
JA- Quando tinha 10 anos, eu já compunha e era interessado por música. Criei um grupo no colégio quando da febre dos Beatles e da Jovem Guarda. Veio o nome do grupo que batizamos de Big Boys. Compramos guitarra, baixo, instrumentos de sopro pra investir em orquestra. Depois veio um grupo por nome de Cavaco e Viola que era um grupo de choro. Depois fui para o Recife e só depois eu conheci o Sertão pernambucano. Foi nessa fase que comecei a escrever música para o Trio Nordestino. Todas as composições caíram no gosto popular.

M- Como foi ter a participação do rei do baião Luiz Gonzaga?
JA- Lembro que com quatro anos meu pai me embalava ao som de Luiz Gonzaga. Ele tinha uma radiola que só tocava os discos no formato 78 rotação e tinha vários de Luiz Gonzaga. Quando vi o Rei do Baião pela primeira vez nos corredores da gravadora RCA, fiquei muito emocionado que até lembrei de meu pai. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu disse: meu Deus o sonho está realizado, meu pai vai ficar muito orgulhoso em saber que eu sou pelo menos colega de gravadora de Luiz Gonzaga. Quando ele gravou comigo a primeira vez, foi realização total. A música estourou no Nordeste e aí foi um grande presente. Depois gravamos juntos em outros discos.

M- Como compositor um de seus clássicos é Petrolina-Juazeiro. Você lembra como nasceu essa música?
JA- Vivi aqui em Petrolina por três anos e foi uma experiência fantástica tanto que só guardo ótimas recordações. Meu primeiro carro comprei aqui. Com uns amigos, fizemos um grupo de choro e de samba. Certa vez estavamos no Vaporzinho, em Juazeiro, fiz a primeira estrofe, mas não fiz cantando, fiz como poesia. Ali mesmo pedi ao garçom um pedacinho de papel e escrevi a composição. Acho que somente quatro ou cinco dias depois fiz a segunda parte aí, terminei e já musiquei. Quando a turma do Trio Nordestino passou por aqui me perguntou qual era o meu mais novo trabalho. De cara, os rapazes gostaram e gravaram no disco seguinte da banda. Juazeiro-Petrolina foi para lugares que a gente não esperava. Virou o hino nos barzinhos de toda a orla do Nordeste, enfim, e depois que eles gravaram eu gravei, e alcancei a marca acima de 100 mil discos. Anos depois Geraldo Azevedo, Elba, Fagner entre tantos outros gravaram e perdi a conta. Foi uma música que me deu alegria demais e, hoje, depois de tanto tempo você ainda escuta ela em qualquer lugar do Brasil.

M- Que leitura você faz da produção musical brasileira de hoje?
JA- É bem diferente de quando comecei. Tem muita gente que diz que a música de hoje não é como a de antigamente. Na verdade, o cenário musical de hoje não é como o de ontem. Tudo mudou. À época da Jovem Guarda eu usava cabelo grande, calça amarela e era uma loucura em Altinho porque as pessoas mais velhas xingavam a gente. A juventude da atualidade não é aquela que curtiu Roberto Carlos, então, eles hoje curtem outro estilo. É claro que, como em todas as profissões, esse meio tem os bons e maus músicos. Tem bandas ruins e bandas boas. Às vezes aquilo que é ruim para mim é bom para quem curte. Isso é uma coisa meio maluca. Minha carreira está centrada num estilo bem nordestino. Ainda sou fã de Raul Santos Seixas, Tim Maia, e tantos outros ícones dessa geração. [M]

                                                                                                   Por Cleilma Silva, para o MultiCiência