TPA encena em Petrolina texto comovente que retrata trajetória do jornalista Vladimir Herzog

. 16 novembro 2014
                                                                                                                    por Emanuel Andrade

Perto de completar 40 anos ( em 2015) do assassinato do jornalista Vladmir Herzog,  pelas garras da ditadura militar que está fazendo meio século,  muitas lembranças começam a ser revistas como forma de homenagear ou  ainda repudiar  um dos episódios mais cruéis da história do país. Uma das lembranças dos fatos através da arte está em cartaz em Petrolina, Sertão do São Francisco, com assinatura do Teatro Popular de Arte que encena neste sábado(15) e domingo(16), no Teatro Amélia, do Sesc, nova montagem do  texto ‘A Verdadeira História de Glauco Horowitz: Patética’, escrita em 1976 por  João Ribeiro Chaves Neto, cunhado de Vladimir.


A história começa desde a fuga da família Herzog para livrar-se da perseguição nazista na Europa e culmina com sua morte nos porões da ditadura militar. Em 1975, o jornalista e dramaturgo foi chamado para depor com suspeita de envolvimento com o Partido Comunista, quando começa toda a saga de sofrimento, perseguição e morte. A estreia da peça ocorreu no último final de semana para convidados e contou com as presenças do filho do Vladimir, Ivo Herzog, diretor executivo do Instituto que leva o nome do pai, sediado em São Paulo,  e do membro do Comitê Estadual contra a tortura no estado da Bahia, Carlos Augusto Marighella, também filho de outra vítima da ditadura, Carlos Marighella,  morto pelos militares em 1969.
Após a encenação, os dois participaram de um debate sobre o texto, pontuando outros assuntos  como uma espécie de revisão sobre o período ditatorial, o atual regime democrático e os trabalhos da Comissão da Verdade no país.  O diretor do espetáculo, Domingos Soares, destaca que a escolha do texto foi um processo de muita discussão entre o elenco do ponto de vista da temática, encenação e repercussão regional.

“A escolha também faz parte da convicção de que se hoje a censura ideológica das manifestações artísticas ilegal e ilegítima, se hoje o palco é livre para propor o debate de ideias, sem o julgo da mordaça e do temor,  de que foi vítima durante  os anos  de ditadura, o artista não deve furtar a dar sua contribuição  à história”, justifica Soares.

Para o diretor que reuniu uma equipe de 15 pessoas entre atores e técnicos, nessa montagem, o texto de João Ribeiro Chaves, não poderia  ser adaptado com cortes e nem acréscimos diante a coerência com os episódios reais da história de Herzog. “O autor fez a peça em forma de metáfora. Ele queria contar a verdadeira história de Herzog, mas não podia por causa da perseguição que poderia sofrer nos anos 1970.

Por isso, o nome do protagonista e das pessoas envolvidas com Vladimir foram alterados para driblar a censura da época”, explicou.

No espetáculo, cinco atores interpretam diversos personagens, o que, segundo Domingos, também foi uma estratégia para driblar a censura, pois muitos artistas em cena poderiam chamar a atenção dos militares. A peça ganhou prêmios e foi proibida algum tempo depois. “Como estamos em um período de liberdade e o tema está muito atual, achamos importante discutir o assunto em Petrolina e trazer pessoas que viveram o horror da ditadura”, comentou o diretor. Uma das cenas que mais comovem o público é o momento de tortura retratando o momento em que despido, Herzog sofre choques elétricos.
Assim como Herzog, o personagem Horowitz é europeu de origem judaica e foge para o Brasil. O termo 'Patética!' do título tem relação com a 6ª Sinfonia de Tchaikovsky, também conhecida pelo mesmo nome. “Provavelmente o autor gostava muito da Sinfonia, ela está presente em boa parte do espetáculo. A trilha sonora também é composta por canções judaicas da década de 1940”, contou Domingos.

Serviço:
'A Verdadeira História de Glauco Horowitz: Patética!'
Datas:  15, 16, 22 e 23 de novembro
Local: Teatro Dona Amélia, no Sesc Petrolina
Endereço: Rua Pacífico da Luz, nº 618, Centro
Horário: 20h
Ingressos: R$ 20, a inteira e R$ 10, a meia-entrada