Jovens escritores lançam livros de forma independente e atraem novos leitores

. 21 agosto 2015

Em tempos de leituras superficiais por meio das redes sociais, jovens do Sertão de Pernambuco aproveitam esse território tecnológico para deslanchar seus projetos literários e incentivar a leitura de fato. Seja na poesia, conto ou romance, não estão preocupados em apelar nas editoras tradicionais. Investem do próprio bolso ou buscam patrocínio para fazer suas edições, mesmo que pequenas. Assim, conseguem chegar aos leitores abrindo um horizonte na literatura.
Matheus José
Aos 18 anos, o jovem estudante Matheus José, residente em Petrolina, não esconde que a literatura está no sangue. Na infância, se acostumou ao ver o pai na rede lendo ou escrevendo poesias, sem a intenção de publicá-las, o que lhe influenciou naturalmente. Em menos de três meses o garoto já publicou dois livros. Em maio, autografou o livro de poemas ‘Pensamentos de um Andarilho’, pela editora Mondrongo.
Para mim todo poeta é um andarilho, pois passeia nas profundidades de sua psique, no terreno de seus pensamentos, nos recônditos da sua alma, nos mais íntimo de seu coração, na luz colossal ou na vasta escuridão de seus sentimentos”, diz o jovem poeta amante dos versos de Carlos Drummond e João Cabral de Melo, no texto entrelinhas que abre o livro.
Durante a 2º Feira de Livros do Vale do São Francisco, em julho, autografou, seu primeiro romance em  homenagem aos 750 anos do poeta renascentista italiano Dante Alighieri que se comemora neste ano de 2015. Intitulado de Dante e Beatriz, o autor escreveu uma espécie de diário  em torno do personagem. “É uma espécie de encarnação  do amor do dois  para os tempos atuais”, explica.
Quando se deparou com a história de Dante e seu amor por Beatriz Portinari, Matheus mergulhou em sua obra lendo Monarquia e Divina Comédia. “Em sua trajetória Dante passou mensagem do amor, esperança e fé em Deus, tudo que a humanidade precisa hoje”, comenta. Autor independente, ele diz que escrever não é o desafio que é maior no ato de publicar. “A gente gasta sem pensar em lucros, mas sim pelo prazer de levar literatura às pessoas”, observou.
Gênesis Naum de Freitas
A paixão pela memória e história, também fez outro jovem sertanejo Gênesis Naum de Farias, ir lá na Vila Rica de Ouro Preto (MG), do século 18, para escrever Aldeia do Tempo, uma introdução amorosa dos lugares de memória, tendo como pano de fundo os fatos ocorridos a partir da Inconfidência Mineira. Professor colaborador da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e coordenador do Núcleo de Estudos Foucaultiano da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), Gênesis trabalha temas voltados para  educação, sociedade, memória, cultura e diversidade.
Sobre a narrativa de Aldeia do Tempo, ele pontua que se trata de um romance histórico, que assume o compromisso de refletir as questões que interessam às mudanças cruciais ocorridas no Brasil Colonial.  “Um velho frade da Vila Rica retorna do passado sombrio, nas masmorras da Fortaleza Ilha de São José das Cobras no Rio de Janeiro, para relatar o que viu e experienciou com o terrível processo das devassas”, explica. Genesis também investiu recursos próprios para bancar o projeto recém lançado, através da editora Scor Tecci, de São Paulo.
Maurício Ferreira
Para Gênesis, escrever livros e movimentar a literatura  no interior é um desafio. “É preciso quebrar essa barreira bairrista da capital porque a literatura que se faz aqui é de grandiosa qualidade. Não é preciso estar lá em Berlim para se ler Goethe”, compara Naum que já publicou de forma independente Alma das Ruas (poesias) e aguarda tirar da impressora gráfica este ano, Lavoura de Insônias.
POETAS- Natural de Ouricuri, o poeta e dono de um sebo de livros no centro de Petrolina, Maurício Ferreira, também, divide seu tempo entre a leitura e escrita de poemas. Este mês, ele publicou de forma independente pelo selo Arte-Ofício, o livro Luzes do Ermo (Uma memória poética). Em 72 páginas ele expõe por meio dos versos, a memória de Santa Cruz (ex-distrito de Ouricuri) e sua famosa festa religiosa da Venerada, retratando pessoas, causos, fatos históricos, brincadeiras de sua infância e relatos familiares que não lhe saem da memória.


Mariane Ribeiro
Por outro lado, o incentivo à literatura, no interior não acontece como muitos aspirantes à literatura sonham. Mas estes acabam expondo seu trabalho em feiras, oficinas e festivais. Aqueles que ainda não publicaram aproveitam para compartilhas seus textos também nas redes sociais. É o caso da jovem Mariane Ribeiro, de Triunfo, que prefere trilhar no campo da poesia. Leitora assídua da obra de Paulo Leminski, Augusto dos Anjos e  Waly Salomão, ela tem muito texto na gaveta, mas não tem patrocínio pra lançar.
“Não é tão fácil, já tentei editais, mas ainda não acertei, mesmo assim continua escrevendo”, diz Mariane que de fato não pára de escrever e compartilha em sua página no facebook. “A poesia virtual também acontece com outra força porque há quem de fato goste e acaba compartilhando”, completa.
     
 Emanuel Andrade