“As pessoas acham que flor no chão é sujeira”. Com essa provocação
e questionamentos acerca da necessidade de um estudo das mentalidades, o
professor do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, Cultura e
Territórios Semiáridos (PPGESA), Doutor em Educação, Josemar Martins Pinzoh
abriu a Sessão Coordenada do segundo dia (04/10) do VIII WECSAB, realizada no
auditório multimídia do Departamento de Ciências Humanas (DCH III), da UNEB em
Juazeiro. A sessão teve a participação de pesquisadores com temas relacionados
ao Semiárido Brasileiro; da professora Luzineide Carvalho e o engenheiro
ambiental Frederico Santos.
O eixo motivador das discussões foi a proposição do grupo de Estudos dos
Modos Contemporâneos de Existência em Educação, Cultura, Sustentabilidade e
Subjetividade (ECUSS). A poesia se fez presente através das explicações de
Pinzoh, que destacou, por exemplo, a importância e beleza da floração dos Ipês,
do quanto as pessoas precisam ser educadas para compreenderem a importância da
natureza. “Todo lugar que você vai tem lixo, as pessoas estão preocupadas em
varrer as flores. Pra mim, serve para fazer um estudo de mentalidade”, declara.
Mestre pelo PPGESA, Enos André de Farias apresentou a pesquisa sobre o
uso de Tecnologias no Sertão Pernambucano a partir do reuso das águas cinzas.
Ele percorreu 2,2 mil/km com uma motocicleta de 150 cilindradas, denominada de
Berenice. Isso porque, passou tanto tempo com o veículo que chegava a
“conversar” com ela [entre risos, ele diz que pensava alto e fazia de conta que
a moto estava ouvindo]. Percorrer os municípios da área atendida pelo Núcleo de
Comunicadores Populares do sertão de Pernambuco proporcionou a Enos um
conhecimento, na prática, de tudo o que eles apresentam na teoria, como por
exemplo, o reuso e tratamento das águas cinzas das casas e o biodigestor
sertanejo.
Segundo o pesquisador, o biodigestor ainda não é uma tecnologia muito
visível, mas é de custo acessível. Na comunidade de Baixio, de Santa Cruz da
Venerada, produtor chega a economizar dois botijões de gás por mês na produção
de doces, faz e comercializa os produtos que são resultados do manejo adequado
da terra e da preservação da caatinga. “As famílias produzem doce de
leite, de abóbora, de batata e toda essa produção é feita com o combustível do
biodigestor”, afirma. Também destacou o processo de desertificação causado na
região pela extração de Gipsita e fornos das cerâmicas produtoras de
bloco/telhas e a capacidade de articulação e mobilização das comunidades.
Os cientistas sociais Guilherme Ernesto Neto e Kleyton Gualter Silva abordaram a festa do Vaqueiro, no município baiano de Sobradinho, pensando o campo semântico do conceito de descartável. Kleyton destacou que utilizaram o festejo para analisar as relações sociais das pessoas com o lugar, com outras pessoas e com a festa e constataram a grande quantidade de lixos descartáveis e a perda da tradicionalidade. "Os vaqueiros tiveram até o percurso da procissão deles interrompido pelo evento que ocorre simultaneamente e que o poder público diz que é parte da festa. Por acaso, a gente percebeu que o conceito de descartável não está somente no olhar do poder público em relação ao vaqueiro, ele está, inclusive, nas relações que ocorrem alí. Na quantidade de paredões, na musicalidade e no contexto geral", declara.
Ainda sobre a temática dos resíduos, Carla Fabiana Silva e Mábio Dutra,
mestres em Educação, partilharam as ideias da pesquisa: “A Iniquidade Humana e
a Estética do Lixo”. Durante a Sessão, abordaram a necessidade de pensar uma
educação para a cidadania, dentro de uma perspectiva contextualizada. “A gente
não pode simplesmente aceitar um currículo engessado, a escola que é feita
somente pelas paredes e as pessoas passam despercebidas. A escola é necessária
e é importante nesse momento de crise à qual estamos passando”, defende Carla.
O engenheiro ambiental Frederico Costa Santos falou sobre sustentabilidade das
práticas ambientais e problematizou a questão do descarte de resíduos. “O
descartável em si é algo que foi feito para ser jogado fora. Não tem outra
coisa. E aí vem o desafio: será que a gente está indo no caminho certo agindo
com práticas, teorias e tecnologias fim de tudo? Por que a gente não inverte e
vamos começar a se perguntar: por que jogar fora?”.
As discussões também adentraram a temática do semiárido urbana. A
pesquisadora Luzineide Carvalho destacou a importância de olhar para a cidade
como um sistema vivo e complexo, que, com o passar do tempo, a cidade de
Juazeiro alterou a rede hidrográfica e não diversificou as espécies da paisagem
no urbano. E isso afeta o microclima e a mobilidade. “A circulação da cidade
quase toda é paralela cortando riachos. Que se a gente perguntar para alguém,
vai responder: riacho não, é um valão, esgoto”, observa.
Durante a pesquisa, foram mapeados os riachos que cortam a cidade e
associando a isso um trabalho com relatos de que a Juazeiro antiga tinha
variedade de espécies, de verde. Também foram realizadas oficinas de percepção
ambiental nas escolas com crianças do segundo ao quinto ano para demonstrar os
conhecimentos vivenciados pelos alunos.
Após as discussões, o professor Pinzoh trouxe novamente o tom
poético para encerrar o debate com a leitura de um trecho que fala sobre o
lixo, do livro "Cidades Invisíveis”, de Ítalo Calvino. "A gente
precisa fazer um exercício de argumentação sobre o que significa a experiência
humana”. Um exemplo é como descartar o lixo de forma sustentável e ser uma
realidade para todos.
A pedagoga e pós-graduanda em Desenvolvimento Infantil Liliane Barros,
avaliou de forma positiva as discussões. “Tudo o que foi falado a gente tem que
praticar no nosso cotidiano e passar as informações para outras pessoas
também”.
Diversos temas serão abordados no último dia do Workshop, nesta
sexta-feira (05/10), além da página do PPGESA no Facebook, você pode acompanhar
tudo sobre o evento através do canal da WebTV Uneb, núcleo Juazeiro no YouTube.
Texto: Vagner Gonçalves
Fotos: Mayane Santos