Criação e subjetividades na exposição “O fim do desenho”

Multiciência 26 abril 2019



Cores, formas, traços uniram jovens artistas para construir uma exposição repleta de sentimentos e conhecimentos associados à arte, levando os expectadores a cultivar e a contemplar obras reflexivas sobre a mulher e seu papel político na história.

É percebido em algumas obras o sertão visto de uma forma esteticamente bela reproduzida através de um trabalho de reutilização com ossos de animais típicos do nordeste como a vaca e o bode. Além disso, as artes expressam em pedras os desenhos ancestrais da cultura indígena, digna de perfeição nos detalhes e formas.

Porque “O fim do desenho?”, título da exposição de arte visual. Esta é uma pergunta inerente à essência da arte, a de provocar questionamentos. É notório o despertar reflexivo a partir da observação dos desenhos. O expectador é conduzido a desenvolver um olhar mais sensível para os traços entre fotografias e pinturas. Neste sentido, as obras explicam sua existência por uma visão mais minuciosa, detalhista das coisas que estão ao nosso redor e que compõem o mundo.

A exposição de artes visuais “O fim do Desenho?” acontece na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Campus Juazeiro no Pavilhão de Artes Visuais. As obras são uma produção do Colegiado de Artes (Cartes) em parceria com a Diretoria de Arte, Cultura e Ações Comunitárias (Dacc) da Univasf; e o projeto “Silenciamentos”, desenvolvido pela professora Clarissa Campello do Cartes e por estudantes do curso. A exposição ocorre nas salas de Pintura e Desenho, no Bloco de Artes, e pode ser visitadas no horário de 19 ás 22:00 horas.



O trabalho de exibição das obras faz parte da semana de integração do curso de Artes visuais e tem a intenção dos estudantes conhecerem as áreas e possibilidade de formação do Curso, além de permitir que os veteranos socializem seus trabalhos artísticos, educativos e científicos. 


Segundo o curador da exposição Edson Macalin, as dez obras são compostas pela singularidade de cada aluno trazendo seu processo criativo, expondo questões que lhe são valiosas e que fazem parte do seu contexto social. Os desenhos tradicionais são percebidos de outras formas, como por exemplo, o bordado aplicado às fotografias e os troncos secos que trazem uma estética diferenciada aos admirados dessas obras entre outros.

Também são desveladas histórias de vida a partir das obras, uma delas a de mulher que sofreu com o preconceito porque fazia graffiti. Ela foi julgada como alguém que praticava vandalismo. A consequência foi a violência simbólica, interrompendo seu processo de criação e se dedicou a fazer crochê.

Para o desenhista Irving Tavares o que mais lhe chamou atenção na exposição foi perceber que as obras de artes estavam voltadas para o tema da violência e a questão do racismo. “Pude perceber que os desenhos falam sobre nosso dia-a-dia, como eles estão difíceis, com muitas mortes e acontecimentos ruins”.

Alisson Nogueira é um dos artistas da exposição e sua obra Cama Dágua apresenta uma cama frágil com muita poesia que rememora os tempos de cadeira na calçada e os mergulhos do cais. “Como se o tempo nada pudesse mudar passava como se o rio não desaguasse no mar”.



Texto: Moisés Cavalcante
Imagens: Moisés Cavalcante