Sem
pedir licença, os primeiros raios solares entram pela varanda. Observo em
silêncio. Tic-tac-tic-tac... Soa o relógio da minha cabeça. E num súbito
despertar, enxergo-me no chão da sala, observando os elementares contornos de
um “arco-íris” que ali se formava.
De repente, ouço uma
voz cautelosa, longínqua, como se temesse assustar-me:
– Parece que você tem
encontrado o contentamento que tanto procura – disse.
Eu, ainda absorto,
posicionando minha mão sob o piso da sala, vi-me encantado diante da tímida
manifestação de cores que agora se projetava entre meus dedos.
– É lindo, né? –
emendei, sem dar a devida atenção ao que fora dito.
– Sim, é muito bonito –
respondeu-me ele, sorrindo.
– Interessante –
continuei. – Mais cedo, outro arco-íris se refletiu nas páginas do meu livro, e
eu, abobalhado, não sabia se continuava a leitura ou se o admirava.
Fez-se breve silêncio,
quebrado apenas por uma pequena risada.
Ele achava engraçadas
as minhas pausas repentinas, quando me perdia em pensamentos... divagações.
– Oieeee! Está me
ouvindo?
– Sim, claro. –
respondi rapidamente, como se, em vão, quisesse disfarçar os segundos de
ausência contemplativa.– Continue, por favor – reforcei.
–
Eu me referia ao contentamento, lembra? Acho que você está encontrando o
contentamento com a existência – repetiu.
Ouvi, mas nada falei.
Diante do meu silêncio,
continuou:
– Você sempre fala que
a felicidade perpassa pelo contentamento com a existência. E que o
contentamento, por sua vez, se manifesta por meio do olhar contemplativo, pelo
admirar das pequenas coisas, não é isso?
Ainda em silêncio, mas
agora desperto, pensei no que fora dito. Impressionou-me o fato de um pequeno
feixe de luz, no chão da sala, fazer brotar essa conversa. Mas eu sabia do que
se tratava. Ele se referia às minhas divagações cotidianas sobre felicidade e à
busca constante por encontrar o contentamento no mais singelo manifestar da
natureza.
Achei interessante,
pois eu não havia percebido, mas estava ali, diante de mim, a mais pueril das
contemplações: o simples encantar-se diante de um feixe de luz colorida.
– É isso. – respondi
timidamente, voltando o olhar para o pequeno arco-íris que, aos poucos, se
despedia, perdendo-se na frieza do chão da sala e nos tons amarronzados da
minha pele.
– Sim. É o
contentamento. – concluí sorrindo.
Mas não foi um sorriso
qualquer. Na verdade, eu sorri com os olhos. Sorri feito criança quando avista
o mar pela primeira vez. Sorri de contentamento.
Paulo Pedroza é Jornalista em Multimeios, contista e Mestre em Educação, Cultura e Território Semiáridos