Impactos do Covid-19 na atividade turística

Multiciência 10 junho 2020

O Farol da Barra com pessoas de vários países e regiões do Brasil será, por enquanto, uma cena nostálgica das boas lembranças de quem já passou por ali. Nas 13 zonas turísticas do estado da Bahia, a paisagem está tomada pelo silêncio. Na Chapada Diamantina, no Vale do São Francisco, a cena se repete. Bares, restaurantes e hotéis fechados. Responsável por cerca de 4 % da atividade econômica do estado da Bahia, o turismo já contabiliza os impactos provocados pela pandemia do COVID-19.

De acordo com pesquisa realizada pela Diretoria de Planejamento Turísitco da Secretária de Turismo do Estado da Bahia (Setur), os indicadores de desempenho referente ao mês de abril deste ano mostram que houve queda significativa em relação ao mesmo período de 2019. A movimentação no aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, entre embarques e desembarques domésticos e internacionais, foi de 31.054 passageiros em abril deste ano, contra 520.640 no mesmo período do ano passado. A diminuição do fluxo foi de 94%.

“Empresas, que tinham mil vôos diários, fazem atualmente de 50 a 60”, afirma a comissária de bordo Fernanda Santos, que mora em Salvador, mas sempre está na região na recepção dos passageiros do aeroporto Senador Nilo Coelho, em Petrolina (PE). A comissária conta que as empresas estão realizando parcerias com os trabalhadores para tirar licença não remunerada, a fim de evitar demissões em massa. “Agora, é aguardar. Vamos ver o que vai ser daqui pra frente, afirma.”

As restrições adotadas pelo Governo do Estado impediram a circulação de pessoas na capital e nas cidades baianas. O número de municípios com restrição ao transporte coletivo intermunicipal, público e privado, rodoviário e hidroviário passam de 196, e a expectativa é de que mais municípios façam parte do quadro de bloqueios. O resultado da medida reflete na baixa circulação de pessoas, o que faz gerar prejuízos, principalmente no setor de hotelaria.
Renata Carvalho, Professora Uneb
É o que acredita a pesquisadora da UNEB- Campus XVIII,  Renata Carvalho. Para ela, hotéis que oferecem aos seus hóspedes outras opções de lazer (piscina, bares e restaurantes) como os resorts conseguem acrescentar à renda com os serviços que dispõem. Já os hotéis que ofertam somente vagas para estadias tiveram prejuízos maiores. “As restrições de circulação por causa da pandemia afetam quase que 98% da receitas destes empreendimentos hoteleiros. E quais foram as medidas tomadas pelos gerentes? Demissão em massa, redução de compras de alimentos, material de higiene, reavaliação dos contratos porque não há previsão de retorno”, afirma.

A secretária de comércio exterior, Nildete Oliveira, conta que, antes da pandemia, teve o cuidado de reservar com antecedência algumas vagas em um hotel de Petrolina, no vale do São Francisco.  Residente em Salvador, Nildete visitaria a região para participar da formatura de um ente familiar. “A gente criou expectativa. Era um momento de reunir a família. Veio a pandemia e quando eu liguei para cancelar, os funcionários do hotel me informaram que já tinham passado por e-mail o cancelamento e que, durante o mês de abril, eles já tinham cancelado todas as reservas, infelizmente”.
Nildete em visita a família em Jacobina
Ela também acrescenta que, recentemente, entrou em contato com a rede hoteleira das cidades de Juazeiro e Petrolina e só encontrou dois hotéis em funcionamento. “Impactou muito não só as pessoas que trabalham, mas as pessoas que viajam e precisam dos serviços. O impacto foi geral”, afirma.

Esse cenário caótico também se repete nas locadoras de viagens, veículos e em outras categorias vinculadas ao turismo. A pesquisadora Renata Carvalho estima que, nas categorias de negócios  turísticos, houve perda média de 70 a 90% na recepção de receitas. Os restaurantes também foram afetados mas, apesar de estarem fechados para a recepção de turistas, estão optando pelo “delivery”, o que fez minimizar, em parte, os efeitos da crise: “Os restaurantes, apesar da crise, tem uma ótima opção de mercado que é vender para os moradores locais. Eles tiveram que se readaptar”, afirma a pesquisadora. Em Juazeiro, a prefeitura de juazeiro criou o Festival Gastronômico Delivery para incentivar o setor e dá publicidade ao setor. 

O ministério do Turismo adotou algumas medidas para ajudar o setor, como a medida provisória 963, que abre crédito extraordinário de cinco bilhões de reais para as empresas da área. Os recursos vão reforçar o caixa do Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR). 80 % do valor serão destinados para micro, pequenas e médias empresas. O restante será ofertado às grandes empresas. O dinheiro atenderá somente os serviços cadastrados no sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor de turismo (Cadastur).

Já a medida provisória 936, flexibiliza os salários e jornadas de trabalho por três meses. Em contrapartida, o Governo Federal vai disponibilizar uma parcela do seguro-desemprego para o trabalhador. O lançamento da campanha “Não cancele, REMARQUE” foi outra aposta adotada pela pasta. A campanha orienta os turistas a não cancelar, mas adiar as viagens e os pacotes turísticos neste momento. 

O Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, Campus XVIII-Uneb, situado em Eunapólis tem projeto de extensão que discute os impactos do Covid-19. Para conhecer, siga a página Tour em Casa @touremcasa
Por Rafhael Nobre, jornalista em Multimeios.