Saúde Mental em tempo de Pandemia do Covid-19

Multiciência 09 junho 2020

Devido a Pandemia Mundial do COVID-19, fatores como interrupção da rotina, ruptura da organização cotidiana, necessidade de se sentir útil, cumprir o distanciamento social, o medo do desemprego e da possível infecção pelo vírus, o luto e acúmulo de informações negativas desencadeiam o aumento de Psicopatologias que podem se manifestar a partir de sintomas como insônia, compulsão alimentar, transtornos de humor, ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

Um estudo feito com médicos no Reino Unido pelo instituto "Royal College of Psychiatrists ( Colégio Real de Psicólogos)" apontou o aumento no número de casos emergenciais decorrentes das de transtornos mentais nesse período de pandemia. Para a professora da Universidade do Estado da Bahia e psicoterapeuta Euzelene Aguiar, o surgimento do novo coronavírus traz incertezas sobre o futuro e com o afastamento físico as trocas afetivas foram comprometidas. O ser humano que é feito de vínculos, a partir da rede de amigos, escolas, colegas de trabalhos, agora percebe que se encontra limitado. Tudo isso pode trazer algumas consequências à saúde mental. “Pode causar estresse, aumento da ansiedade, dificuldades de atenção, concentração e memória, ou transtornos mentais". Para a psicoterapeuta, algumas pessoas lidam melhor dependendo da capacidade de adaptabilidade ao momento.
Professora e psicoterapeuta Euzelene Aguiar 
Contudo, outras situações mais graves podem ocorrer, pois estamos vivendo um momento de perdas significativas na vida das pessoas. A psicoterapeuta avalia que esse período pode causar traumas advindos de relações interpessoais nocivas resultantes de violência intrafamiliar, do abandono governamental vivenciado por muitas pessoas nesse momento e/ou da impossibilidade de se despedir de seus familiares, cumprindo as fases essenciais do processamento de luto. Além disso, vive-se uma tragédia coletiva, podendo ocorrer processos de retraumatização a partir de notícias alarmantes, pois as pessoas têm falado do vírus de maneira contínua e não existe a desvinculação da doença, que pode provocar sintomas como fobias, abandono e desespero 

O convívio dentro de casa, com familiares muitas vezes não tem sido fácil e em algumas situações podem causar irritabilidade. Antes da pandemia, as pessoas tinham uma rotina, como ir ao trabalho, aos ambientes escolares e tinham tarefas a executar. Com a necessidade de cumprir o distanciamento, as pessoas precisam conviver sem a liberdade que tinham e alguns conflitos já existentes na família podem ser potencializados, como a intolerância ao outro ou sensações de impaciência.

Cuidar da saúde mental

Nesse momento que estamos afetados emocionalmente, como cuidar da saúde mental? A psicoterapeuta Euzelene afirma que é benéfico estabelecer metas e incorporar atividades de lazer no nosso dia a dia, se perceber e pensar em aspectos positivos. "Se focamos no que temos, isso nos fortalece, mas se direcionarmos nosso pensamento no que falta, isso tira nosso vigor, vitalidade, ânimo", avalia.

Para isso,  as pessoas podem organizar a rotina para ter uma alimentação equilibrada, boa qualidade do sono e melhorar a capacidade de autoconhecimento. Atualmente, há diversas formas de interação com ferramentas virtuais como lives nas redes sociais com profissionais, cursos gratuitos e aulas de exercícios físicos.
Júlia desenvolveu projeto para estudantes 

A estudante do curso de Pedagogia, da Universidade do Estado da Bahia, Julia Stéfani, teve dificuldades para lidar com o distanciamento social. Um dos principais desafios foi conviver com o acúmulo de informações a respeito do coronavírus e os impactos na vida das pessoas, geralmente de conteúdo negativo. Sobre isso, a psicóloga Lorena Pesqueira enfatiza que é necessário buscar "sites e notícias seguras, não precisa se encher de informações, basta tomar medidas de prevenção e ajudar a combater a doença". 

Euzelene também considera que é “preciso perceber as emoções, buscar aproveitar o tempo e ter bem-estar psíquico”. Foi o que aconteceu com a estudante Julia. Ela observou que os sintomas de ansiedade apareciam com freqüência e buscou ajuda de um profissional da área de saúde, recorrendo a terapia online gratuita.  Julia também adotou estratégias para melhorar sua saúde mental: inseriu-se numa rotina, buscou a meditação, a leitura e criou um projeto educacional nas redes sociais para estudantes que vão fazer o Exame Nacional dos Estudantes (ENEM), o "Acompanhamento Educacional JS".

Psicóloga Lorena Pesqueira 

Lorena Pesqueira considera que as pessoas devem desenvolver atividades rotineiras no cotidiano familiar e em casa.  “É preciso fazer coisas que se gosta, mesmo dentro de casa. Ser criativo, cozinhar, fazer exercícios, assistir aos filmes ou descansar”, diz. Já outras pessoas gostam de fazer arte manual, adotam ritual de meditação, gostam de ouvir músicas ou conversar em videoconferência com os amigos pelas redes sociais. O importante é fazer algo que traga sensações boas e alegria no cotidiano.

Para a psicoterapeuta Euzelene, é necessário também campanhas educativas, visando orientar que as pessoas tratem de um todo, corpo e mente. Para ajudar as pessoas que precisam de atendimento psicológico, Lorena orienta que, em casos de emergência, é necessário buscar a Rede de Apoio, como Centro de Apoio Psicossocial (CAPS). Em Juazeiro, além do CAPS, será disponibilizado atendimento psicológico online para profissionais da saúde e comunidade até o dia 30 de Junho. Para  informações, ligue para (74) 9 8842-2777.

Acompanhe também nas redes socais o projeto desenvolvido por Júlia @Ju_Steff, Lorena Pesqueira @psicologalorenapesqueira e Euzelene Aguiar @euzeleneaguiar.



Por Mariana Brasileiro, estudante de Jornalismo em Multimeios (UNEB).
Ilustração: Maria Clara, estudante de Jornalismo em Multimeios (UNEB)