Os agentes comunitários de saúde no enfrentamento à pandemia da Covid-19

Multiciência 26 maio 2021

“A pandemia não avisou que iria chegar, tivemos que obedecer a decretos, mudando assim toda a rotina”.
É com essas palavras que Maria Elza, agente comunitária de saúde há 28 anos em Juazeiro, reflete como seus dias de trabalho não são mais os mesmos com a chegada do novo coronavírus.

Os agentes comunitários de saúde (ACS) fazem parte da Estratégia de Saúde da Família (ESF), sistema que visa à reorganização da atenção básica no país, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), e que servem para orientar famílias sobre cuidados com atenção básica. Na pandemia, essas orientações passaram a ser sobre o que era a Covid-19 e as medidas de prevenção ao espalhamento do vírus, tornando o trabalho desses profissionais ainda mais essenciais.

Para os agentes comunitários, a primeira medida urgente para o enfrentamento foi saber o que era Covid para esclarecer a população dos riscos da doença.  Sars-CoV-2, nome científico do vírus causador da Covid-19, é uma infecção respiratória potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. Chamado de novo coronavírus, leva esse nome por ser parecido com uma coroa. Transmitido de humanos para humanos seu contagio ocorre, principalmente, por meio do contato com gotículas da boca e do nariz (saliva, tosse ou catarro), que podem ser repassadas diretamente (de pessoa a pessoa) ou indiretamente (pelo toque de objetos ou superfícies contaminadas). Estima-se que o tempo entre a contaminação e a manifestação dos primeiros sinais e sintomas ocorra de 0 a 14 dias.

Conhecendo o risco de transmissão, a Fiocruz junto ao SUS lançou em 2020 uma cartilha para orientar os agentes comunitários durante a pandemia, levando a uma reorganização das atividades. Com isso, as práticas diárias mudaram, pois agora têm um peso e uma atenção maior, tanto para os agentes quanto para as famílias.

Por agirem em microaréas, os ACS desempenham papel relevante na vigilância à saúde durante o período pandêmico, eles contribuem para a identificação de casos e para o monitoramento de suspeitos, confirmados e contatos, além de produzirem informações de modo oportuno e confiável e mobilizar a população. Geralmente, os agentes são “filhos da casa”, reside no mesmo bairro ou área territorial que exerce seu trabalho, estreitando a relação com as famílias.

 Essa relação sempre foi a melhor possível, por eu ser filha do bairro a maioria das famílias são contemporâneas, colegas de escola, de faculdade, outros amigos de infância, parentes. Somos bem aceitos, sem restrições, embora muitos tenham plano de saúde, nada interfere; a relação é ótima”, conta Maria Elza Costa Santos, ACS do bairro Santo Antônio, em Juazeiro (BA).

Antes da pandemia, o trabalho desses profissionais se dava apenas no cadastramento e recadastramento das famílias, orientá-las quanto à utilização dos serviços de saúde, realizar atividades programadas como a demanda espontânea e acompanhá-las por meio de visitas domiciliares. Os agentes são quem primeiro acolhe os gestantes, idosos, doentes ou pacientes com comorbidades, o que de alguma forma contribui para não gerar uma superlotação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Mudança nas atividades e orientações.

Auxiliando com outros profissionais que também atuam na linha de frente do combate à Covid-19, os ACS cumprem uma função essencial. Eles são os primeiros profissionais que precisam identificar se os pacientes apresentam sintomas semelhantes a uma síndrome gripal. Esses sintomas geralmente são: tosse, dispneia (falta de ar), mialgia (dor muscular) e fadiga (fraqueza) sintomas respiratórios superiores (espirro, tosse, dor de garganta), febre maior ou igual a 37,8 °C e sintomas gastrointestinais, como diarreia em casos mais raros.

Caso o paciente apresente alguns destes sintomas, o profissional orienta a permanecer em isolamento domiciliar por 14 dias desde o início dos sintomas, sem comparecer a serviço de saúde para evitar a transmissão da doença. Em casos graves, os agentes comunitários acompanham os pacientes pelas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) por telefone ou mensagem digital, se o paciente for até uma unidade de saúde ele também é direcionado por estes profissionais.

 Visando a segurança no dia a dia e o acompanhamento das famílias, as prefeituras foram orientadas a disponibilizar equipamentos de proteção individual (EPIs), álcool 70% e máscaras cirúrgicas, mas isso nem sempre é eficaz.  Maria Elza reconhece a importância do trabalho dos agentes, mas afirma que, em muitos casos equipamentos como estes, chegam a ficar escassos.  “O trabalhador necessita de boas ferramentas, o ACS não é diferente. Nós precisamos estar paramentados adequadamente, com vestes, calçados, máscaras, álcool em gel,  a fim de que estejamos protegidas, o ACS, nossa família  e a família visitada”, declara Maria Elza.

A profissional também avalia que o poder público pode dar maior reconhecimento a esse trabalho de prevenção e cuidado. “O momento é triste e cinzento é fato, visto que o agente comunitário é a porta de entrada de informações, é  o elo entre a UBS  e as famílias, é quem traduz o cotidiano das famílias”.

Trabalho Domiciliar

Segundo o Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Endemias (SINTASE) da cidade de Juazeiro, onde Maria Elza e mais outros 398 Agentes atuam, os equipamentos garantem a proteção destes profissionais. Contudo, esclarece que a melhor alternativa ainda é manter a categoria em trabalho domiciliar – em casa -, pois quase 70% dos trabalhadores já contraíram a doença.

“O agente pode trabalhar em home office, em casa, até porque temos a facilidade de entrar em contato por telefone ou redes sociais com os moradores,  já que o trabalho desta categoria por lei é repassar informações da prestação de serviço da unidade de saúde básica, orientar, acompanhar e encaminhar o cidadão até o serviço de saúde do SUS”, declara o Ailton Messias de Souza vice-presidente da SINTASE.

Devido ao risco existente na circulação pelo território e na visita domiciliar, a comunicação com as famílias poderia ser feita de maneira remota ou virtual. Os grupos de whatsApp e outras redes sociais são ferramentas para divulgar informações oficiais do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado e das municipais de Saúde e ainda monitorar casos suspeitos. Alguns equipamentos como tablets e drones ajudam a fortalecer a rede de apoio e oferecer soluções.

“Essas medidas de trabalho só fortalece o SUS no combate ao espalhamento da contaminação da Covid para que estes servidores não se contaminem e não contamine outras pessoas, os quais terão contato e também as suas próprias famílias em casa”, afirma Ailton Messias.

Assim como Elza, muitos Agentes acompanham famílias há muitos anos, o que faz com que nutram laços de amizade e estreitem as relações. Com restrições, lockdowns e medidas de distanciamento, estes profissionais diminuíram o contato físico através de abraços, apertos de mão e a conversa no sofá para um cafezinho à tarde. As visitas foram prejudicadas, mas, quando acontecem, eles ficam na porta da residência e atendem os pacientes do grupo de risco.

 A rotina mudou, mas esses profissionais continuam atuando para a promoção da saúde na reposta rápida ao combate à pandemia. O ACS sonda, cuida, orienta, informa e é a principal linha de frente no enfrentamento da Covid-19.

Para conhecer sobre a cartilha para os agentes comunitários, clique aqui.

Reportagem Especial de Madeleine Mourão, estudante de Jornalismo em Multimeios para Agência MultiCiência

E-mail: madeleinejornalismo@gmail.com