A Jornada de Iniciação Científica da UNEB tem como objetivo
apresentar à comunidade as ações de pesquisa científica e tecnológica
desenvolvidas pelos bolsistas e voluntários da instituição. Na edição deste
ano, com o tema Valorização da Ciência em Defesa da Vida, os bolsistas Jônatas
Pereira e Otávio Duarte foram premiados na categoria Ciências Sociais
Aplicadas, com as pesquisas que relacionam a pandemia do Covid-19 à cobertura
jornalística de dezembro de 2019 até dezembro de 2021.
Jônatas Pereira, que cursa o sétimo período de jornalismo,
foi premiado em 1º lugar pela pesquisa “Tessituras de vida e morte: escritas de
jornalistas sobre a pandemia da Covid-19”, na qual concentrou os estudos nas
produções da jornalista Eliane Brum para o jornal El País Brasil. Durante a pesquisa, ele analisou 58 textos e
destacou as colunas “Mães Yanomami
imploram pelos corpos de seus bebês” e “A Marcha dos Mortos”, nas quais a
jornalista fugiu da entrevista técnica
para intercambiar experiências e dar voz às comunidades dos povos
originários silenciadas pela mídia brasileira.
Jônatas destaca como mais relevante o contato com textos que
narram, documentam a experiência pandêmica, principalmente relacionada a
narrativas de vida e morte. Ele ressalta que os textos demonstram que as vidas
perdidas pela Covid-19 e pelas medidas tomadas pelo governo Bolsonaro, que
protelou o acesso à vacinação, são dignas de luto público. Para o estudante, o
jornalismo precisa avançar bastante para romper com as espirais de silêncio
relacionadas às comunidades tradicionais que não ocupam espaço nos grandes
veículos de comunicação.
“O jornalismo precisa se impor ativamente na denúncia da barbárie e refletir com urgência sobre a emergência climática. A pandemia não é um fenômeno isolado, mas faz parte de um processo maior, a crise climática. É um alerta da forma destrutiva que vivemos atualmente. O jornalismo feito por Eliane Brum nos convoca a agir”, esclarece Jonatas.
Jônatas Pereira (arquivo pessoal)
O jovem celebra a premiação e se sentiu feliz por ver a academia reconhecer a necessidade dos estudos sobre o campo jornalístico e a importância do jornalismo na defesa da vida e da ciência. “Essa foi uma pesquisa que tenho muito orgulho de ter desenvolvido. O jornalismo teve um papel fundamental na pandemia”, diz. Questionado sobre os impactos e mudanças que o “diálogo possível” com suas fontes estabelecido por Eliane Brum pode reverberar na comunidade jornalística, o jovem pontua a necessidade de esvaziar-se de si mesmo e estar aberto a escutar o outro em sua complexidade, não reduzindo as fontes a meios técnicos de atingir objetivos jornalísticos, mas alguém que gera aprendizado e conexão. Jônatas Pereira recomenda que se pode ouvir a experiência do outro sem subestimá-la e tentar passar essa experiência para o leitor de forma que ele se sinta estimulado a reconhecer essa outra existência.
Combate à desinformação
Com o tema Jornalismo e saúde em tempo de covid-19: a
contribuição da informação jornalística no combate à desinformação sobre a
doença, Otávio Duarte conquistou o segundo lugar na premiação e analisou a
cobertura jornalística da Folha de São
Paulo durante a pandemia. Com base na análise, o estudante destaca a
importância da presença de fontes oficiais e da comunidade científica para a
prevenção e tratamento da doença.
“ Ser laureado graças a essa pesquisa é um motivo de orgulho, essa premiação já reforça a importância da pesquisa. Enfrentar uma pandemia já é um motivo agravante, isso se torna ainda mais alarmante quando temos que lidar com a desinformação, com essas notícias que tem por objetivo desvirtuar a realidade, que tenta descredibilizar a ciência e que provoca a desconfiança no trabalho jornalístico.”, afirma o bolsista.
Otávio Duarte (arquivo pessoal)
Otávio afirma que a metodologia é parte principal do
processo de pesquisa, pois ela orienta e ressalta importância de olhar para
essa pesquisa para além daquilo que ela pode oferecer como resultado,
enxergando a forma como contribui para analisar a prática jornalística diante
de um acontecimento social e midiático, pois repercutiu na mídia, influenciado
modos de perceber e receber as informações sobre a pandemia.
Na pesquisa, Otávio procurou entender como o jornalismo pode
combater a desinformação, principalmente em situações como notícias sobre
medicamentos que não tinham reconhecimento da comunidade científica.
Questionado sobre a importância do jornalismo disseminar mais informações que
possam combater a desinformação, o bolsista destaca que “ o debate acerca da
desinformação deve ser propagado, e creio que estamos no caminho certo. O
primeiro passo é discutir o que é a desinformação dentro das universidades, em
cursos de comunicação social, para que os profissionais possam discutir,
debater, e ampliar o conhecimento acerca do assunto”.
Os projetos de pesquisa de Jonatas Pereira e Otavio Duarte
fazem parte da pesquisa “Comunicação e Saúde em Tempos de Pandemia da Covid-19”,
coordenada pela professora Andréa Cristiana Santos desenvolvida de outubro de
2021 a outubro de 2022.
Por Beatriz Lopes com colaboração da Redação MultiCiência