Cecílio Bastos: A tecnologia trabalha a serviço do jornalismo, vai ressignificando as práticas jornalísticas

MultiCiência 07 fevereiro 2023
Com o desenvolvimento das novas tecnologias, as rotinas produtivas no jornalismo passam por constantes  transformações. Os meios tradicionais de comunicação, apesar de sua hegemonia, estão aderindo a essas novas maneiras de transmitir conteúdos com credibilidade.  

Professo de  Comunicação Social com habilitação em Jornalismo em Multimeios pela Universidade do Estado da Bahia e mestre em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA/UNEB) Cecílio Ricardo de Carvalho Bastos  realiza, atualmente, pesquisa sobre o uso do DRONE FPV para a produção de imagens na rotina produtiva do jornalismo. 

Cecílio Bastos é professor e pesquisador do DCH III.  Foto: Runa Mota

Em entrevista à Agência MultiCiência, Cecílio aborda as inovações digitais dentro das universidades e a criatividade no uso das novas tecnologias. Confira a entrevista feita por Daniela Ramos e Ruana Mota.

MultiCiência: O que motivou o senhor a estudar o jornalismo digital?

Cecílio Bastos: Foi uma percepção que eu tive naquele momento de que o jornalismo caminhava para o mundo digital. O analógico não acabou ou é ruim, mas a gente tem que pensar: são duas coisas interdependentes. Foi uma decisão assertiva minha pensar o mundo digital no jornalismo e me especializar nessa área. 

MultiCiência: Hoje, acontece uma reconstrução das rotinas produtivas no jornalismo devido às novas tecnologias que têm surgido. Como o jornalismo se associa a esses novos meios de tecnologia?
Cecílio Bastos: A nossa linha de pesquisa não considera que o ser humano é quem produz a tecnologia, mas a tecnologia também constrói o ser humano, é um movimento mútuo.  No mesmo sentido segue o jornalismo, não é que o jornalismo constrói a tecnologia, mas a tecnologia também trabalha a serviço do jornalismo, vai ressignificando as práticas jornalísticas.  O jornalismo de dados é algo muito antigo. Hoje, é potencializado pela internet, pela quantidade de dados que a internet dispõe, mas não quer dizer que o jornalismo passou a usar dados depois da internet. 

MultiCiência: O jornalismo digital oferece uma notícia mais instantânea que, aparentemente, atrai muitos leitores. Mas essa instantaneidade, muitas vezes, contribui para que os leitores estejam mais desinformados devido à falta de aprofundamento na leitura das notícias e uma apuração superficial. Como o jornalismo atrelado às novas tecnologias pode trabalhar para oferecer notícias bem apuradas?

Cecílio Bastos: O crucial é sair da perspectiva de ferramenta e entender o jornalismo digital e suas linguagens. Hoje, é possível entender as potencialidades que as linguagens computacionais oferecem. Em uma página, você pode exibir material interativo, vídeo, imagens cinéticas e estáticas, tabelas, gráficos. Precisamos pensar como essa linguagem pode prender o leitor e explicar melhor ao leitor sobre um determinado conteúdo

MultiCiência: Em relação às universidades, principalmente as públicas. Como elas estão buscando contribuir na formação dos estudantes de Comunicação para prepará-los para que utilizem nas suas rotinas produtivas as tecnologias?
Cecílio Bastos: Isso é parte da nossa pesquisa também. Acho que as universidades precisam investir mais em laboratórios de inovação. Não estou falando em laboratórios cheios de computadores, não apenas isso, mas um laboratório de inovação, um laboratório maker, que aguce a criatividade digital. 

MultiCiência: Os drones FPV permitem uma filmagem em tempo real. Aqui no Brasil quais caminhos podem ser adotados para que economicamente seja viável já que a aquisição e o uso desses aparelhos são dispendiosos? 
Cecílio Bastos:  Muito pelo contrário. São materialidades que não são caras do ponto de vista empresarial. Trazendo para o uso da redação, o uso profissional do jornalismo, como ele é altamente configurável, o profissional piloto que sabe desenvolver, ele vai adaptar essa materialidade para aquilo que ele vai fazer. Quando um equipamento desse chega a uma transmissão ao vivo de um stock car e de uma F1, não é à toa. Existe aí uma comunicação entre agências, entre redação, entre jornalistas.

MultiCiência: Um dos princípios do jornalismo é a ética. Como é tratada essa questão no uso dos Drones FPV nas coberturas jornalísticas?
Cecílio Bastos: A Legislação é muito confusa no Brasil em relação ao uso de drones. Os hobbystas estão buscando dialogar com as autoridades. É proibido levantar um drone em cima de uma multidão, é um equipamento muito perigoso pode falhar o sinal e ferir drasticamente uma pessoa. O que é permitido é fazer imagens com uma distância estabelecida de construções e de pessoas, mas não seguem. Tem que pedir a autorização de voo porque o espaço aéreo precisa saber que existe ali um objeto flutuando por conta das outras aeronaves. Acredito que vão haver congressos, diálogos para que essa legislação se atualize porque como está não pode continuar. 

Drones são usados em coberturas jornalísticas. Foto: Arquivo: Site Frizodrone 

MultiCiência: Gostaria que o senhor comentasse um pouco sobre o papel da comunicação nas novas tecnologias: realidade virtual, o metaverso. Como essas novas tecnologias podem ser usadas no jornalismo?
Cecílio Bastos: Prefiro dizer que a gente já usa há um bom tempo.  Criou-se um discurso que é daquela linha do marketing, da publicidade, do mercado sobre o metaverso. Enquanto pesquisador, profissional da comunicação, a gente tem que olhar para o metaverso como um lugar, como uma plataforma. Porque há várias dimensões: governança; os algoritmos e performatividade. Agora, o metaverso tem uma moeda, por exemplo, as criptomoedas que circulam, isso começa a dar condições para você criar outras coisas.

Entrevista realizada por Ruana Mota e Daniela Pereira para a disciplina Introdução ao Jornalismo (2022.2)