Em 2023, o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos cresceu 18% no primeiro trimestre, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, o percentual era de 16,4%. A taxa de desocupação também é expressiva entre mulheres, que chega a 10,8%, enquanto os homens no mesmo período foi de 7,2%.
Além disso, do quarto trimestre de 2022 ao primeiro de 2023, a Bahia liderou o ranking das maiores taxas por falta de empregabilidade. O desemprego atinge sobretudo pessoas negras no país, saiu de 9,9% para 11,3%, enquanto a desocupação entre pessoas brancas saiu de 6,2% para 6,8%.
Diante desse cenário, a juventude usa de práticas empreendedoras para garantir a sustentabilidade financeira. Após concluir o ensino médio, Israiane Brito se desapontou ao enviar mais de cem currículos e não obter respostas positivas. “O ápice do cansaço e frustração foi quando fiz um psicoteste e tirei nota 64, mas uma antiga amiga minha - branca, magra e de cabelo liso - que havia tirado 32, é que foi chamada para uma entrevista”, conta Israiane.
Depois dessa decepção, Brito decidiu fazer o hobby de trançar cabelo como empreendimento que lhe garantisse sustento financeiro, pois já realizava isso na familia. Ela cuidava do cabelo da mãe e de suas amigas desde os 14 anos. “Iniciei o meu empreendimento em 2021 em casa mesmo, com o que tinha”. Atualmente, a empreendedora de 20 anos e moradora do Vale do São Francisco é especialista em tranças e busca, através de sua arte, transmitir beleza, afeto e celebrar a identidade afrobrasileira e o protagonismo negro.
Israiane Brito, trancista. Reprodução Instagram |
Empreendedorismo
Assim como Israiane, existe uma juventude que busca, através das práticas empreendedoras, adquirir sua renda financeira. No entanto, de acordo com o pesquisador Gabriel Ulbricht, é preciso ter atenção, pois os valores do empreendedorismo que buscam incentivar a juventude a ter uma cultura inovadora capaz de criar seu próprio emprego na verdade escondem problemas contemporâneos que afetam os trabalhadores juvenis dificultando a entrada no mercado de trabalho com precariedade, resultando no desemprego prolongado ou intermitente.
Gabriel explica que a abertura desses negócios se dá por dois motivos: empreendimento por necessidade ou oportunidade. O primeiro possui um anseio maior para suprir inicialmente o desemprego e que não é seguramente esquematizado ou bem desenvolvido. O segundo é uma atividade diferente que procura estabelecer uma motivação da criação do próprio negócio e anseio por autorrealização, além de uma melhor organização que possibilita gerir adequadamente o investimento.
Nessa perspectiva, após ter trancado uma graduação, Karine Ramos, decidiu se ocupar com alguma atividade e começou a usar o passatempo que tinha com a fotografia para buscar sua autonomia financeira. “Já era maior de idade e queria ter a minha independência, mesmo ainda estando na casa dos meus pais”. Ramos trabalha como fotógrafa há mais de seis anos e iniciou essa ocupação profissional quando tinha menos de 23 anos. Ela considera uma área desafiadora, pois vários profissionais realizam o serviço em Petrolina-PE e com isso acaba não tendo muito espaço no ramo. Porém, aposta na sua criatividade e deseja ocupar o espaço já que está se formando em Jornalismo em Multimeios.
Karine Ramos, fotógrafa. Reprodução Instagram |
Karine afirma também que, no início de seu empreendimento, foi um desafio tanto para seu público quanto para ela que ainda não era conhecida e não tinha a experiência prática que possui atualmente. Nesse sentido, é importante que a juventude que acredita nas práticas empreendedoras, enquanto proporcionadora de autodeterminação e sustentabilidade financeira, fique atenta aos riscos e dificuldades que essa atividade acarreta.