Fruto de cinco anos de pesquisas do grupo de pesquisa científica “Rhecados - Hierarquizações Raciais, Comunicação e Direitos Humanos” da UNEB, coordenado pelas docentes da Ceres Santos e Márcia Guena, o livro “O Axé na História negra de Juazeiro/BA” surge em decorrência de várias ramificações. Inicialmente, o objetivo era analisar como ocorriam as coberturas de conteúdos de teor racial nos blogs de Juazeiro-BA, em que foi detectado que poucas notícias tratavam sobre as religiões de matrizes africanas e, que, quando feito, as reportagens possuíam discurso de cunho racista e pejorativo, que demonizam as religiões.
Em uma segunda etapa da pesquisa, foram mapeados 54 terreiros de Candomblé e Umbanda nas cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, dos quais 31 aceitaram participar de um estudo mais aprofundado em que a equipe do Rhecados concluiu que Onyndancor é o mais antigo terreiro em atividade da cidade bahiana, com 60 anos de atividade.
A professora da UNEB e coordenadora do grupo de pesquisa, Márcia Guena explica que a pesquisa com o terreiro começou em 2019 com o projeto “Histórias e Imagens de terreiro em Juazeiro”, mas que se desdobrou em mais dois subprojetos, um sobre a história do Caboclo Boiadeiro e o outro de entrevistas sobre o Onyndancor.
“A pretensão era fazer com um número maior de terreiros, mas percebemos que seria complicado, devido a grande quantidade de entrevistas, então decidimos nos concentrar no mais antigo”, conta Guena.
Sobre o processo de elaboração da pesquisa que deu origem ao livro, a jornalista Paloma Cristina da Silva, egressa do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB, explica que primeiro foi feita a leitura da bibliografia sobre Candomblé no Brasil e, em seguida, iniciaram as gravações das entrevistas em campo, para só a partir daí seguir para o texto escrito orientado pelas coordenadoras.
Segundo a pesquisadora Márcia Guena, a ideia para a construção do livro-reportagem se deu devido à quantidade de pesquisa que envolve essa parte da história negra de Juazeiro, com o grande volume de entrevistas e conteúdo coletado, que se seguiu a partir das pesquisas realizadas pelo grupo Rhecados. Além do livro, outra produção feita em parceria com o Terreiro de Candomblé é o documentário "Zeca da Varginha: Indígena, Caboclo e Boiadeiro”, disponível na conta da professora no Youtube. Para ela, um aspecto importante da produção do livro é que a correção foi feita por Pai Ezinho e Mãe Edna, em uma co-autoria, realizando a verificação de datas, histórias e desencontros nos depoimentos dos entrevistados.
De acordo com a coordenadora do projeto, o livro surge com objetivo de combater o racismo religioso. “É impossível que religiões que deram origem a nossa essência, que acolheram os povos negros e indígenas sejam condenadas e agredidas”. Portanto, o livro é dividido em 10 capítulos, que contextualiza o surgimento do bairro Quidé e de seus terreiros, e traz principalmente a história da fundação do Onyndancor através da perspectiva dos filhos biológicos e de terreiro de Mãe Flora, como também de pessoas que testemunharam os eventos e ações do Terreiro nos seus primeiros anos de atividade. Um dos filhos de Mãe Flora, Elson Rosa, musicista do terreiro, declara que se sente honrado por poder ver a história dos pais e do terreiro reconhecido.
Lançamento da obra
Em coletiva de imprensa realizada na terça (03/12), a equipe do MultiCiência foi recebida no Ilê Axé Ayrá Onyndancor pelas lideranças do Terreiro, o Babalorixá Edson Rosa e a Yakekerê Mãe Edna, e por alguns membros da casa e do grupo Rhecados que produziu a obra, como a coordenadora Márcia Guena e os autores Paloma Cristina da Silva e Marcus Vinícius Souza, para uma conversa sobre a obra, como o percurso e história por trás da publicação. Durante o momento com a imprensa, o Babalorixá Edson Rosa (Pai Ezinho) explicou que o terreiro sempre foi muito receptivo ao envolvimento acadêmico com os povos de terreiro, em uma relação de acolhimento e de aprendizado recíproco para os estudantes e para os filhos da casa.
O lançamento oficial da obra aconteceu na última quinta (05/12), no espaço do Ilê Axé Ayrá Onyndancor, no bairro Quidé, e contou com a presença da liderança e componentes do terreiro e das organizadoras do livro, Márcia Guena e Ceres Santos. A obra pode ser adquirida no site do projeto www.onyndacorterreiro.com.br. O projeto recebeu o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia pela Lei Paulo Gustavo, através da Secretaria de Cultura, sendo um dos dois contemplados pelo edital na Bahia.
Por Bruna Almeida, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaboradora do MultiCiência.