Está em exibição no foyer do Centro de Cultura João Gilberto, em Juazeiro-BA, até o próximo dia 05 de setembro, a exposição das imagens que compõem o fotolivro “[às] Margens do Olhar (AMO)” do fotógrafo baiano Heitor Rodrigues. O trabalho fotodocumental é uma reconstrução das representações imagéticas de pessoas em situação de rua, através da fotografia, buscando dar um novo significado diante dos estigmas e preconceitos impostos a elas.
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Foto: Heitor Rodrigues |
O livro fotográfico é resultado de uma imersão antropológica do autor pelas ruas de Juazeiro-BA, Petrolina-PE e São Paulo-SP durante um processo que durou mais de dois anos. São 13 fotografias em preto e branco distribuídas em 15 quadros, que juntas contam a realidade das pessoas em situação de rua, mas que, segundo o artista, também revelam o afeto como uma forma de caridade e de ação social, como o trabalho realizado pelo padre Júlio Lancellotti, uma das principais referências na defesa de pessoas em situação de rua e um dos colaboradores da obra do fotógrafo.
O projeto nasceu em janeiro de 2013, quando o fotógrafo se mudou de Feira de Santana-BA para morar em Juazeiro-BA. Ao chegar, ficou impactado com a quantidade de pessoas que viviam pelas ruas da cidade, e como elas estavam presentes em diversos cantos do lugar, principalmente as crianças, que muitas vezes via vendendo algum tipo de alimento pela orla. Mas foi após o período de quarentena, durante a pandemia de COVID-19, em 2020, que o projeto começou a ganhar forma, quando as pessoas em situação de rua passaram a utilizar cartazes nos semáforos de trânsito para se comunicar com a sociedade e denunciar o abandono silencioso com os que não tinham um refúgio durante o isolamento social que atingiu o mundo.
“Todo esse impacto social, reflexo da desigualdade, me motivou a mergulhar nesse universo repleto de vulnerabilidades, utilizando a fotografia como instrumento de memória/denúncia/reflexão”, comenta o fotógrafo sobre o pontapé que deu luz ao projeto AMO.
O trabalho do autor coincide com os dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a população em situação de rua (OBPopRua/POLOS-UFMG), que revelam o aumento contínuo nos números de pessoas que vivem em situação de rua no Brasil. Segundo o estudo de abril de 2025, são mais de 335 mil pessoas que vivem nas ruas do país, agravados pelos resquícios da pandemia de COVID-19 e da precarização das condições de vida e trabalho.
Dessa forma, as fotografias do livro e exposição se revelam como uma forma de denúncia acerca do descaso com as pessoas em vulnerabilidade social, que muitas vezes são marginalizadas e invisibilizadas pelo setor público e pela sociedade. Ao visitar a mostra fotográfica, o autor quer que os visitantes reflitam sobre que tipo de imagem é socialmente empregada a pessoas em situação de rua e que de algum modo revejam os possíveis preconceitos entranhados em si mesmos, para conseguir enxergar uma imagem humana em quem está em situação de vulnerabilidade.
“A fotografia é uma arte que tem um potencial enorme para mudar o mundo. É uma ferramenta de resistência e denúncia, mas principalmente de reflexão. A fotografia costuma mostrar o que muitos não querem ver. Então, espero que esse projeto leve a uma sensibilização da sociedade e do poder público com as pessoas em situação de rua” completa Rodrigues sobre o impacto social das fotografias.
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Foto: Heitor Rodrigues |
O livro reúne 135 fotografias e relatos colhidos entre 2022 e 2025, além do prefácio da obra escrito pelo padre Júlio Lancellotti. Sua versão física pode ser adquirida por R$100, já a versão digital pode ser encontrada gratuitamente em formato de pdf e e-pub, ambos no site da editora P55 Edição. Parte dos exemplares também serão distribuídos em escolas públicas e na biblioteca municipal de Juazeiro.
visita à exposição é gratuita e pode ser feita de segunda a domingo, durante todo o dia. Além do Centro de Cultura João Gilberto, o fotógrafo vai levar as imagens para serem expostas no dia 15 de setembro no Centro Pop de Juazeiro, onde vai rolar uma roda de conversa das 09h às 12h. O Centro Pop é uma casa de acolhimento localizada no bairro Maria Gorete, que dá assistência às pessoas que vivem pelas ruas da cidade, lugar onde muitos dos momentos do livro e exposição foram registrados. O projeto AMO tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal.
Por Álison França, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaborador do MultiCiência.