Uma das metas dos jovens é cursar ensino
superior e se realizar profissionalmente. Desde o nascimento dos filhos, os
pais projetam qual a profissão devem seguir e esperam que eles entrem na
universidade antes de completar 18 anos. Essas expectativas começam a se tornar
mais presente já no terceiro ano do ensino médio, quando estudantes deixam de
usufruir de uma vida social, como contato com a família, amigos e até mesmo o
lazer para se dedicar somente ao vestibular, provocando o aumento do estresse
e, no futuro, podem levá-los a ter distúrbios psicológicos como depressão,
ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (T.O.C).
As consequências trazidas por esse
desiquilíbrio entre a vida social e profissional podem ser percebidas em alguns
estudantes universitários que precisam conciliar os estudos com trabalho,
garantir a subsistência e as necessidades de alimentação, lazer e cultura.
Alguns desenvolvem adoecimento físico e psicológico intensificados pelo ritmo
competitivo na academia. Por isso, é cada vez mais necessário refletir sobre a
saúde mental dos universitários.
Este foi o tema apresentado no Trabalho
de Conclusão de Curso em Jornalismo em Multimeios, da recém-formada jornalista,
Maria Eduarda Abreu Silva, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus
III, Juazeiro-BA, no livro-reportagem “1,2,3 Salve Todos: relatos sobre a saúde
mental de universitário”. A jornalista procurou refletir sobre o tema pouco
discutido na comunidade acadêmica e coletou dados com estudantes universitários
do Vale do São Francisco (Juazeiro-BA/Petrolina-PE). No livro, Maria Eduarda
apresenta quatro trajetórias de estudantes universitários que passaram por
processo de sofrimento psíquico durante a graduação, dando visibilidade às
experiências pessoais e as dificuldades que enfrentam/enfrentaram na
universidade.
Além disso, a autora aplicou um
formulário para identificar a situação de saúde mental de 483 estudantes
universitários, sendo 148 do Vale do São Francisco (Juazeiro-BA/ Petrolina-PE)
e 335 de outras regiões do país. Quando perguntados se já se sentiram esgotado
física e/ou emocionalmente durante a graduação, 96,7 % (467) responderam que já
apresentaram esse quadro. A maioria dos estudantes (78%) informou que já
tiveram crises de ansiedade durante apresentação de trabalhos ou outra atividade
avaliativa. Eles esclareceram ainda que já procuraram ou sentiram necessidade
de auxílio psicológico. Contudo, apenas 31% (154) responderam que interromperam
os estudos para buscar ajuda psicológica.
Já quando perguntados se atualmente estão fazendo acompanhamento
psicológico, 79% responderam negativamente.
A pesquisa indica ainda que é necessário
que as universidades viabilizem ajuda psicológica. Contudo, para a maioria dos
estudantes que responderam ao formulário, as universidades não estão preparadas
para auxiliar e receber alunos com transtornos psicológicos. Eles consideram,
ainda, que o tema deve ser discutido em eventos acadêmicos e debates.
Para conhecer mais sobre o tema, a
jornalista entrevistou psicólogos e visitou o Centro de Estudos e Práticas em
Psicologia (CEPPSI), da UNIVASF. Maria Eduarda defende que o livro possa
sensibilizar estudantes e professores a discutir os transtornos mentais entre o
estigma e a invisibilidade, pois o tema ainda é um tabu, o que faz com que as
discussões sejam vistas de formas distorcidas e, muitas vezes, produzam
preconceito e estereótipos como, por exemplo, o conceito de “loucura”.
Maria Eduarda considera ainda que a
população possa compreender os transtornos mentais como doenças extremamente
prejudicais à saúde. Avaliador da banca
do TCC, o professor João José Borges afirma que “o trabalho pode servir como
uma espécie de guia para os estudantes, que pode ter acesso a essas histórias e
possam ser reconhecidos nelas. Apesar de serem variados os casos, o problema pode
ser comum a todos, e existe uma queixa geral. O livro nos faz refletir sobre um
grave problema, que as instituições ainda não dão conta e pode servir como uma
espécie de denúncia social velada”.
Repórteres: Moisés Cavalcante e Patrícia Rodrigues