Pesquisa discute saúde mental de universitários

Multiciência 17 agosto 2018


Uma das metas dos jovens é cursar ensino superior e se realizar profissionalmente. Desde o nascimento dos filhos, os pais projetam qual a profissão devem seguir e esperam que eles entrem na universidade antes de completar 18 anos. Essas expectativas começam a se tornar mais presente já no terceiro ano do ensino médio, quando estudantes deixam de usufruir de uma vida social, como contato com a família, amigos e até mesmo o lazer para se dedicar somente ao vestibular, provocando o aumento do estresse e, no futuro, podem levá-los a ter distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (T.O.C).

As consequências trazidas por esse desiquilíbrio entre a vida social e profissional podem ser percebidas em alguns estudantes universitários que precisam conciliar os estudos com trabalho, garantir a subsistência e as necessidades de alimentação, lazer e cultura. Alguns desenvolvem adoecimento físico e psicológico intensificados pelo ritmo competitivo na academia. Por isso, é cada vez mais necessário refletir sobre a saúde mental dos universitários.

Este foi o tema apresentado no Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo em Multimeios, da recém-formada jornalista, Maria Eduarda Abreu Silva, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus III, Juazeiro-BA, no livro-reportagem “1,2,3 Salve Todos: relatos sobre a saúde mental de universitário”. A jornalista procurou refletir sobre o tema pouco discutido na comunidade acadêmica e coletou dados com estudantes universitários do Vale do São Francisco (Juazeiro-BA/Petrolina-PE). No livro, Maria Eduarda apresenta quatro trajetórias de estudantes universitários que passaram por processo de sofrimento psíquico durante a graduação, dando visibilidade às experiências pessoais e as dificuldades que enfrentam/enfrentaram na universidade.

Além disso, a autora aplicou um formulário para identificar a situação de saúde mental de 483 estudantes universitários, sendo 148 do Vale do São Francisco (Juazeiro-BA/ Petrolina-PE) e 335 de outras regiões do país. Quando perguntados se já se sentiram esgotado física e/ou emocionalmente durante a graduação, 96,7 % (467) responderam que já apresentaram esse quadro. A maioria dos estudantes (78%) informou que já tiveram crises de ansiedade durante apresentação de trabalhos ou outra atividade avaliativa. Eles esclareceram ainda que já procuraram ou sentiram necessidade de auxílio psicológico. Contudo, apenas 31% (154) responderam que interromperam os estudos para buscar ajuda psicológica.  Já quando perguntados se atualmente estão fazendo acompanhamento psicológico, 79% responderam negativamente.

A pesquisa indica ainda que é necessário que as universidades viabilizem ajuda psicológica. Contudo, para a maioria dos estudantes que responderam ao formulário, as universidades não estão preparadas para auxiliar e receber alunos com transtornos psicológicos. Eles consideram, ainda, que o tema deve ser discutido em eventos acadêmicos e debates.

Para conhecer mais sobre o tema, a jornalista entrevistou psicólogos e visitou o Centro de Estudos e Práticas em Psicologia (CEPPSI), da UNIVASF. Maria Eduarda defende que o livro possa sensibilizar estudantes e professores a discutir os transtornos mentais entre o estigma e a invisibilidade, pois o tema ainda é um tabu, o que faz com que as discussões sejam vistas de formas distorcidas e, muitas vezes, produzam preconceito e estereótipos como, por exemplo, o conceito de “loucura”.

Maria Eduarda considera ainda que a população possa compreender os transtornos mentais como doenças extremamente prejudicais à saúde.  Avaliador da banca do TCC, o professor João José Borges afirma que “o trabalho pode servir como uma espécie de guia para os estudantes, que pode ter acesso a essas histórias e possam ser reconhecidos nelas. Apesar de serem variados os casos, o problema pode ser comum a todos, e existe uma queixa geral. O livro nos faz refletir sobre um grave problema, que as instituições ainda não dão conta e pode servir como uma espécie de denúncia social velada”.

Repórteres: Moisés Cavalcante e Patrícia Rodrigues