Era setembro de 2014. A amiga e colega jornalista, Silvana Moreira, lançava a biografia do fotojornalista Evandro Teixeira, na Livraria Travessa, no shopping Leblon. A noite já estava fantástica, pois fui determinado pelo próprio Evandro para ser o fotógrafo da sessão, com sua câmera Laica.
Vejam, eu fotografava o cara que registrou a ditadura militar, flagrou general de pijama, clicou Senna, Pelé e outros instantes. Logo, a filha dele chegou e assumiu o posto. Fiquei “livre”, e comecei a tomar um espumante. Chegava gente e a conversa só aumentava com os amigos de Evandro: Sandra do Voley, Jaguar, atores, atrizes, jornalistas, políticos, pintores e músicos. Entre eles, Moraes Moreira. Aí, era demais para mim.
Já o tinha visto e assistido aos seus shows quatro vezes. Anos antes, em 2009, durante o Festival Edésio Santos da Canção, em Juazeiro, tive acesso a ele, mas fiquei um tanto receoso de falar com ele e os outros novos baianos. Outra vez, também em um setembro, em 2011, estava em Petrolina. À noite, Moraes faria show em um Festival de Arte e Cultura. Após almoçarmos, passamos pela orla de Petrolina e ouvi aquele som...era Moraes “passando” para mais tarde. E paramos, cantamos juntos. Ele perguntou se estava legal. Eu disse que sim, perfeito. Ele confiou no meu ouvido. Passou mais umas duas músicas e saiu do palco. Certamente, deve ter ido contemplar o Velho Chico para se inspirar para o show de logo mais. Que, por sinal, foi sensacional!
Aprendi a gostar de Moraes Moreira em casa. Nem lembro quando ouvi a primeira vez, por ser tão comum no ambiente musical que cresci e foi se fazendo em mim. Mas o tempo é generoso e você vai conhecendo coisas novas, novos sons. O disco Acabou Chorare tinha sumido da minha casa e nunca mais tinha escutado. Em 2003, meu irmão chegou com um CD remasterizado e eu escutava tanto que só faltava “furar” a já obtusa tecnologia de armazenar música. Não sei tocar violão, mas sei ouvir. E escuto bem. E aquele violão de Moraes nas músicas dos “novos baianos” parecia ser o alicerce de toda aquela sonoridade, com uma harmonização perfeita. Era o verdadeiro maestro do bando. Destaco o violão de “Mistério do Planeta” e “A menina dança”. Ninguém faz igual. Nem Davi Moraes.
E assim vamos crescendo, pesquisando. E descubro que Acabou Chorare, segundo eles, só existiu porque João Gilberto visitou a turma e fez a cabeça da galera. E Moraes Moreira era o rockeiro bossa nova do Brasil, com suas melodias cheias de swing, variando entre samba e rock and roll, e encantando todo o Brasil.
Voltando ao setembro de 2014, vejo-o na fila dos autógrafos, com a sua cabeleira encaracolada e chapeuzinho, e os tradicionais óculos escuros. Ali fiquei mapeando os seus passos. Após autógrafo de Silvana e Evandro, ele ficou passeando na livraria e fui logo dizendo. “Oi, Moraes, sou Raphael, lá de Juazeiro”. De imediato, ele me deu atenção e logo perguntou. “Cadê Mauriçola? Está bem? Ali é meu amigo. E Manuquinha? Que figura!”. Respondi às suas perguntas e a partir daí foram 15 minutos de papo descontraído com um dos meus maiores ídolos.
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Moraes Moreira e Raphael Leal - Foto Arquivo Pessoal |
O baiano de Ituaçu, na Chapada Diamantina, foi de uma gentileza impressionante. Aquele momento já estava mágico demais para durar. Assim, ele apertou minha mão e disse: Valeu, Juazeiro! E se foi.Encantado com aquele momento, nem me importava mais com o que poderia acontecer naquela noite. No outro dia, só publiquei nossa foto juntos nas redes sociais, e de Moraes e Evandro Teixeira e Silvana. Pouco me importava quem estava lá.
Agora, Moraes vai harmonizar este lugar que ninguém sabe onde é, com seus acordes dissonantes joãogilbertianos, levando todo um legado de alegria, de liberdade. E um pouquinho de Juazeiro vai com ele. É um texto escrito com emoção, mas Acabou Chorare. Vamos cantar, celebrar e agradecer a algum Deus por ter nos dado a honra de estar junto neste mundo e ter tido a oportunidade de escutar Moraes Moreira e o seu violão, um violão brasileiro.
Por Raphael Leal é Jornalista em Multimeios. Email: raphaleal@gmail.com
Foto: Moraes Moreira - Fonte Revista Forum