O multiartista juazeirense, Euri Mania, incorpora elementos do Sertão em suas obras

MultiCiência 22 julho 2023
A arte urbana é um conjunto de manifestações artísticas que podem ser apresentadas em ruas, prédios e em diversos espaços. Uma das mais expressivas é o grafite, que surgiu como uma das ramificações da cultura Hip-hop, movimento que surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos e se difundiu pelo mundo ao usar a arte para tecer críticas sociais. No vale do São Francisco, o multiartista Euri Mania utiliza a arte do grafite para dar visibilidade à cultura do sertão.

Euri Mania. Foto: Leonardo Miranda

Aos 35 anos, Eurivalter Cupertino, conhecido pelo nome artístico Euri Mania, é reconhecido por sua arte. O artista se mostra como referência da periferia de Juazeiro e do interior, o Salitre. Foi criado no bairro Piranga I, local que o norteou para vocação artística. Euri conta que, através dessas vivências, conheceu o rap nacional e internacional, entendeu a existência da cultura do hip-hop e suas diversas linguagens, o que já fazia, porém não reconhecia ou denominava como hip-hop.

O multiartista, que atua também como rapper e tatuador, conta que já desenhava desde criança e a partir do momento que entrou em contato com o hip-hop viu sua poesia virar arte: “minha poesia virou rap, meu desenho automaticamente foi virando grafite”. Nesse caminho, começa a perceber e incorporar os elementos do semiárido nordestino em suas obras, colocando-os em um lugar de regionalidade.

“Meu rap que em algum momento falava sobre a opressão da juventude preta, também começou a falar sobre a opressão do povo caatingueiro, sobre as dificuldades de se estar no Nordeste, pelos estereótipos e preconceito”, destaca.
Foto: Leonardo Miranda


Dessa forma, o artista busca trazer em suas obras elementos da fauna e da flora, mas também as belezas e os encantos do Sertão. Usa cores vivas e elementos presentes na região Nordeste, como o cacto, que virou sua identidade visual. Euri conta que escolheu o cacto como sua marca por causa de sua representatividade, pois acredita que é um elemento que está no semiárido como uma vegetação sobrevivente. Com isso, ele leva essa vivência para o mundo.


Incentivos públicos e comercialização da arte do grafite

Sobre os incentivos para a arte do grafite, o primeiro projeto desenvolvido na Bahia, no início da década de 2010, foi o programa Mais Educação, com apoio para arte-educadores.

O grafiteiro diz que foi na modalidade do programa governamental que teve a oportunidade de utilizar spray em lata, e que no início da carreira trabalhava com compressor de ar e pincel.

Euri Mania acrescenta que esses projetos deram suporte durante um período, e depois houve um desmonte. Ele avalia que, na região, existem poucos incentivos, mas alguns colégios promovem oficinas, no entanto são esporádicas.

Ele declara que atualmente, o apoio por parte do poder público do município de Juazeiro (BA) é inexistente.  “Não tem incentivo, consequentemente influencia na quantidade de grafiteiros que existem na região”, afirma.

Sobre a questão geracional, o artista acredita que não há muita diferença, tendo em vista que não ocorreu uma grande mudança, embora vários profissionais são oriundos do curso de Artes Visuais, na UNIVASF. Destaca que o grafite não é feito apenas com lata, e sim sobre o tipo de mensagem que se quer passar. Euri também faz referência aos outros jovens que trilharam o caminho, a partir da periferia e não apenas da universidade.

Em relação ao público, Euri ressalta que algumas pessoas não sabem diferenciar grafite de pichação. Para o artista, a pichação e o grafite têm a mesma origem, o mesmo conteúdo e momento histórico.

Foto: Laise Ribeiro

O multiartista comenta sobre a marginalização desse tipo de arte. As pessoas que fazem o picho (termo usado para quem faz pichação em prédios e equipamentos urbano) são interpretados como vândalos e contraventores. No entanto, quando se trata de um desenho mais realista e colorido há uma aceitação maior dentro da lógica do mercado capitalista.

Sobre a contratação das artes para espaços comerciais, Euri diz que é uma das bases de arrecadação positiva, mas que não existe uma estabilidade e há muita oscilação de mercado, ou seja, a contratação do profissional não é uma constante.

Percepção do público

Ao falar sobre arte urbana, mais especificamente a respeito do grafite, é importante entender o ponto de vista da sociedade, das pessoas que transitam nos centros urbanos e relação com esse mundo artístico. Em entrevista, o empreendedor Paulo Henrique, acredita que o impacto dessa forma de expressão acontece no âmbito emocional, tendo em vista que ao observar as artes cria-se uma conexão entre os indivíduos e os desenhos.

Além disso, Henrique, que conhece o trabalho de Euri, entende o grafite como algo que deixa a cidade mais bonita, e, como empreendedor, acha importante o financiamento e apoio aos profissionais da área, por parte do poder público e privado. Para ele, além de transmitir mais beleza para os espaços urbanos, o grafite mobiliza o setor econômico-social da cidade e que a prefeitura deveria ter um olhar especial sobre o grafite.

Para vendedora Joyce Souza, as pessoas que praticam pichação “mancham” a imagem dos grafiteiros porque vandalizam e não pedem autorização ao poder público, fazendo com que todos que trabalham com grafite sejam estigmatizados e sofram preconceito. Ela considera importante que os trabalhos sejam feitos legalmente, mediante autorização.


Por Ana Beatriz Menezes, Juliana Pereira, Laíse Ribeiro, Larissa Maia e Meiwa Magalhães, estudante de Jornalismo em Multimeios