Foto Anderson Nery
Uma das festas mais populares no
vale do São Francisco, o São João de Petrolina, antes conhecido por São João do
Vale, aconteceu entre os
dias 16 e 25 de junho, no pátio Ana das Carrancas. Em dez dias de festa, recebeu mais de 800 mil pessoas e trouxe cerca de 40 atrações musicais se apresentaram no pátio de eventos, entre elas: João Gomes, Léo Santana, Alok, Iguinho e Lulinha, Henrique & Juliano, Jorge & Mateus, Dorgival Dantas, Gustavo Lima, Nattan, Bruno & Marrone e Bell Marques.
Organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turístico (SEDETUR), Petrolina tem consolidado uma agenda de música e cantores
que atraem ao público, principalmente os turistas. O foco
maior da festa foi movimentar a economia local, recepcionar o público com uma
megaestrutura de palco, salão de imprensa , camarotes e dispositivos
eletrônicos para divulgar as atrações. Além de cantores que compõem a grade do
evento, participaram do evento os ex BBBs e a atriz Fabiana Karla.
No entanto, assim como em outras
regiões do Brasil, as festas juninas estão sofrendo um tipo de gourmetização, ou seja, algo como sofisticação e
incremento. E assim, o forró pé de serra
está perdendo espaço para o sertanejo e outros estilos musicais como o
eletrônico e axé. “Estão substituindo o forró aos poucos, isso é inegável. As
atrações não têm mais essa pegada tradicional ligada ao São João”, comentou a
internauta Jady Barbosa.
A festa tradicional de São João, contada
pelos ancestrais nordestinos e postas nas músicas do Rei do Baião, Luiz
Gonzaga, costumava reunir a família para
celebrar a abundância da colheita, dançar forró e “ajuntar" pessoas em torno de uma fogueira para comer
milho e brincar com as crianças. Isso, já não é uma prática tão valorizada. Agora,
as comemorações do São João estão inseridas num processo de elitização e
com isso a festa junina de Petrolina vem sendo criticada em função dos altos preços cobrados nos serviços. “Essa festa é
dividida por camada social, a gente sabe que tem camarotes que são um absurdo
de caro e inclusive não só isso, as bebidas e comidas também”, afirma Barbosa.
Os valores dos produtos vendidos
dentro da festa são uma das principais queixas relatadas pelo público. No Pátio
Ana das Carrancas, um litro de uísque vendido em média no mercado por R$170,00,
custava R$340,00 durante o evento. O litro de
uma cachaça comum ultrapassou os R$100, e o refrigerante em lata chegou a
custar mais de R$6 a unidade
Este ano, quem decidiu sair de casa
para experimentar as comidas, petiscos e bebidas no pátio de eventos se surpreenderam. "Todo ano
esses preços aumentam um pouco, mas esse foi um desastre. Pra gente que é trabalhador rural e tira
uma folguinha para curtir, meu sentimento é que essa festa não é mais pra gente”, disse o trabalhador rural,
Hiago Pereira.
De acordo com o Código de Defesa do
Consumidor (CDC), considera-se preço abusivo, quando o fornecedor de produtos
ou serviços exige do consumidor uma vantagem excessiva. Os organizadores do
evento não se preocuparam com
esse "comercio" de altos custos, assim como no quesito acessibilidade
ao público. O local tinha pouca visão, estava situado do lado do palco o que
tornou uma dificuldade para as pessoas verem ou acompanharem os artistas. Ainda
assim, a festa de Petrolina se intitula
nas redes sociais como o melhor São João do Brasil. Mas, a festa
ainda é do povo?
Com
o desaparecimento aos poucos das festas dos bairros nesse período junino, a cidade
vizinha, Juazeiro, acaba não tendo outras oportunidades de entretenimento para
a população. Boa parte dos apaixonados por uma festa popular vem para Petrolina
e se junta com o público da cidade para aumentar o número de pessoas que
participam da festa, mesmo que o custo não seja acessível para a maioria da
população.
Os
camarotes também enfatizam o distanciamento das classes sociais. Quem tem
melhor poder aquisitivo ocupa esses espaços. Os privilegiados financeiramente
estão mais próximos dos cantores. As demais pessoas ficam mesmo na pista maior
e se aglomeram diante do palco ainda que esteja longe. Ou seja, o público que
curte a festa na muvuca não tem as mesmas oportunidades e esses acabam sendo
mais explorados, visto que são pessoas com uma condição financeira menor.
Com tradicional festejo, o São João deveria carregar a essência da cultura
nordestino, não só com uma programação intensa de shows com atrações de forró,
quadrilhas juninas, barracas de comidas típicas, mas também com preços justos
que atendam ao público e que a festa seja do povo e feita para o povo.
Por Lívia Bernardo, Roseane Pereira, Micaelly Nery, Vanessa Taratá
Notícia desenvolvida na disciplina Redação Jornalística I, ministrada por Teresa Leonel