Atlética Unificada Bororó enfrenta dificuldades para a regulamentação na UNEB

Multiciência 03 julho 2024

O ônibus fica estacionado ao lado da biblioteca do campus III.

Foto: João Pedro Tínel.




Em 2023, o Conselho Universitário – CONSU, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, por meio da Resolução nº 1.582, aprovou o regulamento de criação e reconhecimento das Atléticas Estudantis no âmbito da UNEB. A primeira a ser regulamentada depois da aprovação da resolução foi a Atlética Unificada Bororó, do campus Juazeiro. No entanto, a divulgação oficial da Bororó como a primeira atlética institucionalizada da UNEB pela Pró Reitoria de Extensão – PROEX da UNEB ainda não foi realizada.

Segundo o seu diretor Victor Menezes, esse processo já deveria ter sido finalizado desde março deste ano (2024), mas, até o momento da publicação desta reportagem, não há nenhuma justificativa dessa informação não ter sido publicada. “A única certeza que temos sobre esse processo, sobre a Bororó ser a primeira atlética institucionalizada, são por e-mails e conversas por WhatsApp com as reitorias envolvidas. A gente quer esse reconhecimento pela luta que é ser uma atlética e uma associação do interior”, reivindica Victor.

As atléticas são entidades universitárias que tem como principal objetivo promover a integração de estudantes através dos esportes. A participação é voluntária. Dentro da universidade, a grande função da atlética é organizar competições, que sirvam como espaços de diversão e integração para os discentes, mas que também estimulem seus participantes a desenvolver características do cotidiano como caráter, disciplina, persistência, sentimento de colaboração e pertencimento, que o beneficiarão mais tarde na vida.


Uniforme da Bororó é caracterizado com as cores azul e branco e estampa o ônibus em seu escudo.

Foto: Luan Barros.


Além dos problemas relacionados a sua regulamentação e divulgação, a Bororó passa por dificuldades para a solicitação e recebimento de materiais esportivos para os treinos. O pedido de bolas, restauração das quadras e mais uma lista com mais de cento e cinquenta itens foi realizado no site indicado pela Universidade para a solicitação. Porém, segundo Victor, ainda não houve resposta nem entrega dos objetos pela PROEX e Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PRAES).

“Nós estamos treinando com bolas remendadas, que já estavam nos nossos armários, que o pessoal que treina comprou com dinheiro próprio ou com o dinheiro que arrecadamos nas ações que fizemos. É um momento difícil, mas estamos mantendo contato e mandando mais documentos sobre as coisas que precisamos”, conclui Victor Menezes.


O “Belo Antônio”

O ônibus de modelo 1966, da marca Mercedes Benz, foi comprado em 1965 pela antiga Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco - FAMESF, por meio de recursos doados pela comunidade, para transportar alunos, professores e funcionários que residiam na região até a FAMESF. O primeiro nome, “Belo Antônio”, foi um apelido dado pelos estudantes, baseado em um filme ítalo-francês da década de 1960, de Vitaliano Brancati.


Foto tirada em 31 de março de 1977 durante uma viagem realizada por alunos da Famesf para a cidade de Curitiba, no Paraná, para participarem da Agronomídades.

Acervo Memória Famesf.


Na memória da primeira turma de Agronomia da FAMESF, “Belo Antônio” resiste as muitas viagens que ultrapassaram os limites das fronteiras do Sertão do São Francisco e do Brasil. Um dos destinos mais comentados são Montevidéu, capital do Uruguai e Buenos Aires, capital da Argentina. Durante a passagem na capital uruguaia, por exemplo, para formação complementar, os estudantes até tentaram visitar dois políticos exilados durante a Ditadura Militar: Leonel Brizola e João Goulart, mas foram impedidos devido ao risco de serem punidos e ficarem presos no país. A viagem durou um mês e até hoje os alunos recordam das aventuras vividas durante a aventura.

Depois de alguns anos, na década de 1970, uma nova geração de alunos e alunas deram um novo apelido ao veículo: Bororó. Esse apelido segue até hoje e influenciou a criação da Associação Atlética Acadêmica Bororó, em 2018.

A história da Atlética Bororó

A primeira pessoa a pensar e criar a Atlética Bororó foi Geraldo Gabriel, estudante de Engenharia Agronômica, que, no primeiro semestre de 2018, montou a ideia e se reuniu com outros estudantes para fundar a entidade. “Eu observei que a gente precisava ter uma associação para organizar os eventos de esportes e de festas. A partir disso, visitei algumas atléticas de Petrolina para saber como funcionava e como gerir, e aí consegui montar a Bororó com outros alunos. Eu acredito que a Bororó foi a primeira atlética de Juazeiro, abrindo espaço para outras também se formarem”, detalha Geraldo.

Inicialmente, a Bororó era uma organização dirigida somente por alunos e atletas do curso de Engenharia Agronômica, do DTCS, mas, após o período da pandemia, esse cenário mudou. Um dos diretores da atlética que incentivou esse processo é Victor Menezes, estudante de Engenharia Agronômica. Ele explica que esse momento foi favorável para a Bororó, já que depois de um tempo sem membros suficientes para sua composição, foi repensada as atividades e a formação da associação.

“Durante a pandemia, a gente pode repensar na Bororó e como queríamos que ela unisse mais o campus Juazeiro. Então, em parceria com pessoas que queriam estar no movimento dos outros cursos, unificamos a atlética e hoje podemos competir em muitos torneios e realizar muito mais ações sociais”, complementa Victor.

O nome da Atlética presta homenagem ao ônibus, conhecido como “Belo Antônio”, que levou estudantes para cursos complementares em outros estados do Brasil e para o Uruguai e Argentina. Hoje, com o apelido de Bororó, esse antigo meio de transporte, inspira alunos e alunas a competirem em torneios e realizarem ações sociais por toda a região.

O veículo já era símbolo do DTCS e do curso de Agronomia, e com a ideia de “atropelar” os adversários em competições, o ônibus se tornou a identidade da atlética. “Foi juntar o útil ao agradável. A gente misturou a nossa ideia com a história do Bororó e formou o nosso visual, existe um carinho dos estudantes pelo ônibus”, explica o seu fundador.

Desde 2002, o ônibus não circula mais pelas ruas do Vale do São Francisco e país a fora. Agora, ele é utilizado, durante o encontro de ex-alunos da FAMESF, como local para a exposição de fotografias antigas dessa Faculdade. Hoje, o “Belo Antônio” também é reconhecido como símbolo de resistência e aventura a favor da educação e é com essa história que sua influência continua até os dias atuais.

Unificação e desafios enfrentados pela Atlética Bororó

Mesmo com o aspecto positivo de trazer uma atlética única para o campus III, muitos estudantes resistiram a ideia no início. Uma das diretoras da atlética Nara Gabriella explicou que, no começo da unificação, os alunos e alunas da UNEB Juazeiro ficavam em seus grupos e cursos, sem se enturmar com outros colegas. “Era muito difícil achar representantes de todos os cursos do campus para unificar”, explicou a representante.

Após muito tempo de planejamento, discussão e recrutamento junto aos discente de todos os cursos do campus III, como Direito, Pedagogia e Jornalismo, a Bororó foi unificada no dia 13 de dezembro de 2023, durante uma assembleia aberta no Auditório ACM. No final, com a participação de todo mundo, a gente finalizou o processo”, finaliza Nara.

Com novos atletas, a atlética unificada mantém uma rotina de treinos das modalidades de futsal, vôlei, basquete e handebol, com equipes femininas e masculinas. Apesar da dificuldade com materiais e áreas precarizadas para a prática de esportes na UNEB, os treinos acontecem, normalmente, ao fim da tarde na quadra do DTCS ou em escolas parceiras, como o Centro Estadual de Educação Profissional em Gestão e Negocio do Norte Baiano (CEEP).

Uma das estudantes que começou a participar dos treinamentos e competições após a unificação foi a aluna de Jornalismo em Multimeios, da UNEB Juazeiro, Maria Fernanda Gonçalves. Mesmo com pouca altura, a jovem atua no time de vôlei feminino da Atlética, mas sua dificuldade está mais relacionada aos espaços para os jogos. “Durante o treino eu me sinto bem comigo mesma. Eu participo dos treinos mistos e femininos, eu consigo me divertir e me enturmar com alunos de outros cursos da UNEB. Mas se as quadras fossem melhores, a gente teria uma experiência completa na universidade”, diz Maria Fernanda Gonçalves sobre como é treinar com a Bororó. 


Maria Fernanda jogando como levantadora em treino de vôlei da Bororó.

Foto: João Pedro Tínel.


Apesar dos desafios que a atlética enfrenta hoje, as ações sociais e de esportes da Bororó continuam. A associação planeja ainda em 2024 realizar uma arrecadação e doação de alimentos, divulgação e doação de sangue para a Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba), eventos esportivos e festas para integração do campus Juazeiro, com outras universidades da região e com a comunidade externa. Além disso, a Bororó está classificada para as finais dos Jogos Universitários da Bahia (JUBA), entre os dias 9 e 11 de agosto, em Jacobina, nas modalidades de vôlei masculino e feminino, e de futsal feminino, que acontecem em agosto. A Bororó também se prepara para competições regionais, como a Copa Inter São Francisco, realizada entre 23 de agosto e 1 de setembro.


Por João Pedro Tínel, estudante de Jornalismo em Multimeios e monitor do MultiCiência.