O ônibus fica estacionado ao lado da biblioteca do campus III.
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Em 2023, o Conselho Universitário –
CONSU, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, por meio da Resolução nº
1.582, aprovou o regulamento de criação e reconhecimento das Atléticas
Estudantis no âmbito da UNEB. A primeira a ser regulamentada depois da
aprovação da resolução foi a Atlética Unificada Bororó, do campus Juazeiro. No
entanto, a divulgação oficial da Bororó como a primeira atlética
institucionalizada da UNEB pela Pró Reitoria de Extensão – PROEX da UNEB ainda
não foi realizada.
Segundo o seu diretor Victor
Menezes, esse processo já deveria ter sido finalizado desde março deste ano
(2024), mas, até o momento da publicação desta reportagem, não há nenhuma
justificativa dessa informação não ter sido publicada. “A única certeza que
temos sobre esse processo, sobre a Bororó ser a primeira atlética institucionalizada,
são por e-mails e conversas por WhatsApp com as reitorias envolvidas. A gente
quer esse reconhecimento pela luta que é ser uma atlética e uma associação do
interior”, reivindica Victor.
As atléticas são entidades
universitárias que tem como principal objetivo promover a integração de
estudantes através dos esportes. A participação é voluntária. Dentro da
universidade, a grande função da atlética é organizar competições, que sirvam
como espaços de diversão e integração para os discentes, mas que também
estimulem seus participantes a desenvolver características do cotidiano como
caráter, disciplina, persistência, sentimento de colaboração e pertencimento, que
o beneficiarão mais tarde na vida.
Uniforme da Bororó é caracterizado
com as cores azul e branco e estampa o ônibus em seu escudo.
Foto: Luan Barros. |
Além dos problemas relacionados a
sua regulamentação e divulgação, a Bororó passa por dificuldades para a
solicitação e recebimento de materiais esportivos para os treinos. O pedido de
bolas, restauração das quadras e mais uma lista com mais de cento e cinquenta
itens foi realizado no site indicado pela Universidade para a solicitação.
Porém, segundo Victor, ainda não houve resposta nem entrega dos objetos pela
PROEX e Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PRAES).
“Nós estamos treinando com bolas remendadas, que já estavam nos nossos armários, que o pessoal que treina comprou com dinheiro próprio ou com o dinheiro que arrecadamos nas ações que fizemos. É um momento difícil, mas estamos mantendo contato e mandando mais documentos sobre as coisas que precisamos”, conclui Victor Menezes.
O “Belo Antônio”
O ônibus de modelo 1966, da marca Mercedes Benz, foi comprado em 1965 pela antiga Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco - FAMESF, por meio de recursos doados pela comunidade, para transportar alunos, professores e funcionários que residiam na região até a FAMESF. O primeiro nome, “Belo Antônio”, foi um apelido dado pelos estudantes, baseado em um filme ítalo-francês da década de 1960, de Vitaliano Brancati.
Foto tirada em 31 de março de 1977
durante uma viagem realizada por alunos da Famesf para a cidade de Curitiba, no
Paraná, para participarem da Agronomídades.
Acervo Memória Famesf. |
Na memória da primeira turma de Agronomia da FAMESF, “Belo Antônio” resiste as muitas viagens que ultrapassaram os limites das fronteiras do Sertão do São Francisco e do Brasil. Um dos destinos mais comentados são Montevidéu, capital do Uruguai e Buenos Aires, capital da Argentina. Durante a passagem na capital uruguaia, por exemplo, para formação complementar, os estudantes até tentaram visitar dois políticos exilados durante a Ditadura Militar: Leonel Brizola e João Goulart, mas foram impedidos devido ao risco de serem punidos e ficarem presos no país. A viagem durou um mês e até hoje os alunos recordam das aventuras vividas durante a aventura.
Depois de alguns anos, na década de 1970, uma nova geração de alunos e alunas deram um novo apelido ao veículo: Bororó. Esse apelido segue até hoje e influenciou a criação da Associação Atlética Acadêmica Bororó, em 2018.
A história da Atlética Bororó
A primeira pessoa a pensar e criar a
Atlética Bororó foi Geraldo Gabriel, estudante de Engenharia Agronômica, que,
no primeiro semestre de 2018, montou a ideia e se reuniu com outros estudantes
para fundar a entidade. “Eu observei que a gente precisava ter uma associação
para organizar os eventos de esportes e de festas. A partir disso, visitei
algumas atléticas de Petrolina para saber como funcionava e como gerir, e aí
consegui montar a Bororó com outros alunos. Eu acredito que a Bororó foi a
primeira atlética de Juazeiro, abrindo espaço para outras também se formarem”,
detalha Geraldo.
Inicialmente, a Bororó era uma
organização dirigida somente por alunos e atletas do curso de Engenharia
Agronômica, do DTCS, mas, após o período da pandemia, esse cenário mudou. Um
dos diretores da atlética que incentivou esse processo é Victor Menezes,
estudante de Engenharia Agronômica. Ele explica que esse momento foi favorável
para a Bororó, já que depois de um tempo sem membros suficientes para sua composição,
foi repensada as atividades e a formação da associação.
“Durante a pandemia, a gente pode
repensar na Bororó e como queríamos que ela unisse mais o campus Juazeiro.
Então, em parceria com pessoas que queriam estar no movimento dos outros cursos,
unificamos a atlética e hoje podemos competir em muitos torneios e realizar
muito mais ações sociais”, complementa Victor.
O nome da Atlética presta homenagem
ao ônibus, conhecido como “Belo Antônio”, que levou estudantes para cursos
complementares em outros estados do Brasil e para o Uruguai e Argentina. Hoje,
com o apelido de Bororó, esse antigo meio de transporte, inspira alunos e
alunas a competirem em torneios e realizarem ações sociais por toda a região.
O veículo já era símbolo do DTCS e do curso de Agronomia, e com a ideia de “atropelar” os adversários em competições, o ônibus se tornou a identidade da atlética. “Foi juntar o útil ao agradável. A gente misturou a nossa ideia com a história do Bororó e formou o nosso visual, existe um carinho dos estudantes pelo ônibus”, explica o seu fundador.
Desde 2002, o ônibus não circula mais pelas ruas do Vale do São Francisco e país a fora. Agora, ele é utilizado, durante o encontro de ex-alunos da FAMESF, como local para a exposição de fotografias antigas dessa Faculdade. Hoje, o “Belo Antônio” também é reconhecido como símbolo de resistência e aventura a favor da educação e é com essa história que sua influência continua até os dias atuais.
Unificação e desafios enfrentados pela Atlética Bororó
Mesmo com o aspecto positivo de
trazer uma atlética única para o campus III, muitos estudantes resistiram a
ideia no início. Uma das diretoras da atlética Nara Gabriella explicou que, no
começo da unificação, os alunos e alunas da UNEB Juazeiro ficavam em seus
grupos e cursos, sem se enturmar com outros colegas. “Era muito difícil achar
representantes de todos os cursos do campus para unificar”, explicou a
representante.
Após muito tempo de planejamento,
discussão e recrutamento junto aos discente de todos os cursos do campus III, como
Direito, Pedagogia e Jornalismo, a Bororó foi unificada no dia 13 de dezembro
de 2023, durante uma assembleia aberta no Auditório ACM. No final, com a
participação de todo mundo, a gente finalizou o processo”, finaliza Nara.
Com novos atletas, a atlética
unificada mantém uma rotina de treinos das modalidades de futsal, vôlei,
basquete e handebol, com equipes femininas e masculinas. Apesar da dificuldade
com materiais e áreas precarizadas para a prática de esportes na UNEB, os
treinos acontecem, normalmente, ao fim da tarde na quadra do DTCS ou em escolas
parceiras, como o Centro Estadual de Educação Profissional em Gestão e Negocio do
Norte Baiano (CEEP).
Uma das estudantes que começou a participar dos treinamentos e competições após a unificação foi a aluna de Jornalismo em Multimeios, da UNEB Juazeiro, Maria Fernanda Gonçalves. Mesmo com pouca altura, a jovem atua no time de vôlei feminino da Atlética, mas sua dificuldade está mais relacionada aos espaços para os jogos. “Durante o treino eu me sinto bem comigo mesma. Eu participo dos treinos mistos e femininos, eu consigo me divertir e me enturmar com alunos de outros cursos da UNEB. Mas se as quadras fossem melhores, a gente teria uma experiência completa na universidade”, diz Maria Fernanda Gonçalves sobre como é treinar com a Bororó.
Maria Fernanda jogando como
levantadora em treino de vôlei da Bororó.
Foto: João Pedro Tínel. |
Apesar dos desafios que a atlética
enfrenta hoje, as ações sociais e de esportes da Bororó continuam. A associação
planeja ainda em 2024 realizar uma arrecadação e doação de alimentos,
divulgação e doação de sangue para a Fundação de Hematologia e Hemoterapia da
Bahia (Hemoba), eventos esportivos e festas para integração do campus Juazeiro,
com outras universidades da região e com a comunidade externa. Além disso, a
Bororó está classificada para as finais dos Jogos Universitários da Bahia
(JUBA), entre os dias 9 e 11 de agosto, em Jacobina, nas modalidades de vôlei masculino e feminino, e de futsal
feminino, que acontecem em agosto. A Bororó também se prepara para competições
regionais, como a Copa Inter São Francisco, realizada entre 23 de agosto e 1 de
setembro.
Por João Pedro Tínel, estudante de Jornalismo em Multimeios e monitor do MultiCiência.