Projeto Encrespa é reflexo do ensino da história e cultura afro-indígena no Codefas

Multiciência 30 julho 2024

A Mostra do Conhecimento Maria Felipa, que dialoga com Independência da Bahia – comemorada no dia 2 de julho – e o ‘Julho das Pretas’, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), foi realizada na última quinta-feira (25/07), Colégio Democrático Estadual Professora Florentina Alves Dos Santos (Codefas), em Juazeiro, no norte da Bahia. A mostra é uma iniciativa do grupo de estudos Encrespa, criado pela professora Vanessa Chaves, que é também uma das organizadoras da Mostra. “Foram eles que deram aula hoje!”, enfatiza ela sobre as instalações criadas pelos estudantes. 

Com programação durante todo o dia, o evento contou com stands temáticos montados pelos estudantes, os quais mesclavam estudos, que vão desde a história das culturas que formaram o Brasil e das lutas pela Independência da Bahia, à exposições culturais, que mostraram a beleza afro-brasileira e indígena, em diversos aspectos: na culinária, vestuário, formas de cuidar do cabelo afro etc. Além disso, houve também o reforço da importância de lutar contra o racismo, inclusive o ambiental, que é presente no nosso país, e vitimiza na maioria dos casos, a população negra e periférica.


Foto: Ana Beatriz Menezes.
A Mostra inspirada a história da Independência da Bahia, no qual as mulheres negras tiveram crucial importância, como a própria Maria Felipa, que mobilizou outras mulheres para lutar, na Ilha de Itaparica-BA, e muitas outras que as matérias escolares de história não estuda. 

Encerramento da programação de julho

As ações fecham a programação de julho na escola é são coordenadas pelos professores de Ciências Humanas, e surge da necessidade de trabalhar as temáticas,não só em um sentido acadêmico, mas com outras abordagens. O grupo abriu suas atividades em 2016, com o lançamento da banda de percussão Afropercussiva, formada pelos próprios alunos.

A formação foi motivada buscando a contemplação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornaram obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígenas nas escolas brasileiras, públicas e privadas. Vale ressaltar que o Codefas desenvolve atividades com essas propostas durante o ano todo, mas que se intensificam nos meses de julho – devido à comemoração da Independência da Bahia e do Julho das Pretas – e, em novembro – por causa da celebração do dia da Consciência Negra.

Foto: Ana Beatriz Menezes

Importância para além dos muros da escola

A professora Vanessa Chaves, uma das coordenadoras do grupo, conta que a ideia de criar o Encrespa partiu para além do cumprimento da legislação, mas da necessidade de desconstruir visões sobre as populações e as culturas negras que foram cristalizadas por abordagens que as folclorizam e são feitas exclusivamente em novembro. Portanto, essas ações visam estimular a identidade e o pertencimento à comunidade negra, como forma de empoderamento, em diversos aspectos. “O Encrespa é sobre nós que fazemos o Codefas, professores, alunos e funcionários. Nós somos a população negra do Brasil e temos essa dificuldade muitas vezes de dizer quem nós somos”, pontua a professora de Iniciação Científica e Geografia.

O papel das mulheres negras e latino-americanas

O Codefas entende que reconhecer a importância de mulheres que foram decisivas para que a Independência da Bahia acontecesse, por exemplo, e outros movimentos de lutas, como a formação dos quilombos e a resistência indígena no Brasil, é papel de toda a sociedade. Para isso, a professora Vanessa diz que cabe as escolas formar jovens com letramento racial e conscientes das interseccionalidades que envolvem a discussão racial e de gênero. 

Continuidade da programação

As atividades do Encrespa se estendem ao longo do ano, e se encerram em novembro, com o Festival do Novembro Negro, pensado para ser um momento festivo, de celebração cultural, mas também formador de senso crítico e de uma epistemologia do conhecimento “encrespada”, que de fato represente a população negra da Bahia e do Brasil, que é a maioria.

Por Ana Beatriz Menezes