Foto: Marcos Souza
Na
ordem: Graciele Castro, Prof. Queila Patrícia Santos, Raylane Nayara Souza e
Prof. Aurilene Rodrigues
O auditório multimídia da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Juazeiro, foi cenário da mesa de
debates “Mulheres Negras: (Re)existências insurgentes”, que faz parte do I
Ciclo Literário de Diálogos Conceição Evaristo em comemoração ao ‘Julho das
Pretas’. O evento trouxe duas líderes da União de Negras e Negros pela
Igualdade (Unegro): a presidenta Queila Patrícia Santos e a dirigente Raylane Nayara
Souza. Também participaram do encontro a poeta cordelista Graciele Castro,
fundadora da editora Cordelaria Castro, e a doutora em Ciências da Comunicação,
coordenadora do colegiado de Pedagogia da Uneb, Aurilene Rodrigues.
O Ciclo, que foi realizado na terça
(09/07), é uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana
e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, ambos
celebrados em calendário no dia 25 de julho. Segundo a Organização das Nações
Unidas, a data foi instituída como marco de visibilidade à luta das mulheres
negras, a partir do primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e
Afro-caribenhas, que aconteceu em Santo Domingo, na República Dominicana, no
ano de 1992.
Foto: Núcleo
de Assessoria de Comunicação (NAC UNEB)
Prof. Queila Patrícia Santos
Para a presidenta Queila Patrícia
Santos, é relevante a parceria da Unegro com as universidades públicas para
realização de atividades como essa, uma vez que promovem a integração entre
academia e comunidade, a fim de diminuir a distância entre elas. “A
universidade tem um lugar de relevância dentro da sociedade e é um espaço meio
distante da população, em certa medida. Há muitas pessoas que ainda pensam que
não podem acessar as universidades, uma concepção que até então paira na
coletividade por conta das questões de desigualdades sociais que a gente
vivencia”, afirma.
Durante a roda de conversa, as
participantes falaram de suas trajetórias no Movimento Negro, contando
experiências ao longo dos anos e promovendo reflexões sobre a representação das
pessoas negras em locais de educação e ciência. De acordo com Queila, essa
representação é essencial para a produção do conhecimento e da intelectualidade
que passam por mãos negras, mudando, assim, a partir da força dos movimentos
sociais, o discurso do homem branco e estrangeiro que predomina como produtor
de saberes, ideia comum na educação básica tradicional ao longo dos anos.
“Hoje, graças às lutas populares,
temos um número relativo de pessoas negras dentro das universidades contestando
essas formulações teóricas e metodológicas do ‘colonizador’, contrapondo e
levando a uma outra leitura de mundo, a partir das perspectivas de intelectuais
negros e negras”, esclarece Queila. A ideia é permitir uma visão contrária
àquilo que é predominantemente construído e elaborado dentro da sociedade, em
termos de letramento educacional e racial.
Ainda no encontro, a educadora
Aurilene Rodrigues compartilhou sua visão sobre as representatividades negra e
indígena no ambiente acadêmico e sua trajetória de consciência racial. Para
ela, apesar dos avanços nas políticas de cotas, ainda é cedo para afirmar que
existe uma representatividade capaz de promover uma reparação histórica nas
universidades, que ainda são majoritariamente compostas por homens brancos. A
doutora também destacou a importância da parceria entre os movimentos sociais e
as universidades públicas, ressaltando que essa colaboração fortalece a
democracia e incentiva a pesquisa.
Aurilene relatou ainda a falta de
representações negras nos espaços educacionais, fato percebido assim que a
professora começou a entender a si mesma como uma mulher negra, quando passou a
questionar o currículo eurocêntrico das escolas e universidades, o qual
marginaliza a história negra e a indígena no País. Ao ser questionada sobre sua
experiência como uma professora negra no meio acadêmico, a educadora confessa
que já sofreu racismo.
“Como uma mulher negra em uma
sociedade racista como a nossa, já passei por várias situações em que o racismo
era evidente [...] como professora já vivi momentos em que as pessoas não me
reconheceram como tal, acharam que eu não era a professora ali”. Conforme
menciona a docente, situações como essas são recorrentes no dia a dia de
pessoas afrodescendentes. Atualmente, para ela, a problemática do racismo, com
suas várias manifestações dentro de sala de aula, está agora mais aparente por
ser um assunto mais falado e mais debatido em ambientes acadêmicos. “Agora nós
temos uma clareza maior dessas questões”, afirma.
Apesar da importância do debate
acerca do tema, a discussão ainda é nova dentro das universidades. “Dentro da
pedagogia, esse debate vem ganhando forças bem recentemente”, percebe a
educadora, notando também que, juntamente a ela, estudantes vêm pouco a pouco
trazendo mais essa conversa para as salas de aula. “Como disse Angela Davis,
‘quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta
com ela’, e é assim que eu me vejo, é assim que eu me sinto”, conclui.
A programação do Ciclo continua mais
dois encontros: em agosto, com data marcada para o dia 23; e o último em
novembro, com data ainda a ser definida. Ambos os debates vão acontecer às
18h30min, na Universidade do Estado da Bahia, campus de Juazeiro.
Por
Ariele Lima, Lorena Garcia e Maria Eduarda Moret.