A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que 85% das pessoas do mundo utilizam plantas medicinais para tratar doenças. Pesquisas etnobotânicas examinam as realidades locais, destacando as interações entre comunidades e as opções fitoterápicas disponíveis. Na região Nordeste do Brasil, a utilização de plantas medicinais como abordagem terapêutica é uma prática contínua, possibilitando a fusão dos discursos científicos e tradicionais, incorporando os elementos culturais característicos desse território.
Para estudar a aplicabilidade e eficiência do uso das plantas, o Projeto Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais (Neplame), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), busca examinar a composição química e avaliar a atividade farmacológica de plantas medicinais empregadas no tratamento de doenças em seres humanos, estendendo-se também à sua potencial aplicação em animais.
O professor e coordenador do projeto, Jackson Guedes, esclarece que a meta é validar cientificamente a indicação popular de plantas que são usadas para tratamento de dor, inflamação, insônia, ansiedade e depressão. Além disso, são avaliadas plantas utilizadas no tratamento de diabetes, e alguns modelos de citotoxicidade que possam ser usadas no tratamento do câncer.
Coordenador do projeto, Dr. Jackson Guedes (Reprodução/Instagram)
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O professor menciona também que um dos critérios usados para a seleção de uma espécie a ser estudada é de que a planta seja usada na medicina popular. “A gente traz essa planta para o laboratório, para poder estudar. Faz os estudos pré-clínicos, que são feitos com animais de experimentação para poder comprovar as atividades farmacológicas dessas plantas utilizadas pelas pessoas. Então, esse conhecimento popular é a base forte de informação pra gente ", esclarece.
O pesquisador ressalta a importância de divulgar os resultados da pesquisa, destacando que algumas plantas possuem um alto grau de toxicidade, assim como a Ricinus communis L. popularmente conhecida como Mamona. Para evitar danos à saúde humana, o projeto sempre busca promover palestras, além dos meios de comunicação para alertar a comunidade sobre os riscos do consumo em excesso. “A gente sempre procura divulgar para a comunidade os resultados das nossas pesquisas, para que as pessoas possam utilizar essas plantas de maneira segura e com uma orientação científica”, diz.
População beneficiada
José Eudes, morador do interior da Bahia, compartilha abertamente sua prática frequente de utilizar plantas medicinais em seu cotidiano. Dentre as variedades que ele menciona, destaca-se o Angico, cuja casca é empregada na medicina popular por meio de infusões, macerações e tinturas, sendo reconhecido por suas propriedades antidiarréicas e expectorantes. Ele destaca especialmente o uso durante o inverno, descrevendo-o como altamente benéfico para aliviar os sintomas gripais.
O projeto busca a implementação desses resultados nas indústrias. O coordenador cita que recentemente desenvolveram um protetor solar utilizando uma planta de nome científico Passiflora cincinnata, popularmente conhecida como Maracujá-da-caatinga, e pretendem lançar no mercado no próximo ano. O grupo planeja também buscar parceria com a indústria farmacêutica para poder desenvolver suplementos alimentares e produtos fitoterápicos contendo plantas aqui da região.