A degradação do solo, assoreamento
dos rios, fragmentação dos habitats são as principais causas da perda da
biodiversidade nas Américas e no Brasil.
De acordo com o Relatório Planeta Vivo, divulgado a cada dois anos pela
ong World
Wide Found for Nature (WWF), a perda da biodiversidade apresenta
declínios médios de 94% entre várias espécies e a situação se agrava no
território semiárido brasileiro, com os biomas cerrado e caatinga.
Embora a caatinga seja o único bioma
exclusivamente brasileiro, mais de 45% de sua área se encontra desmatada, sendo
o terceiro bioma mais degradado do país. A caatinga é de fundamental
importância para a biodiversidade do planeta; suas plantas e 15% de seus
animais são espécies exclusivas do bioma brasileiro. Originalmente
abrangia uma área de aproximadamente 1 milhão de km². No entanto, perdeu mais
de 61 mil hectares de vegetação nativa devido ao agronegócio, extração de
madeira, crescimento urbano e entre outros.
Para reduzir os danos ao bioma, o
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) decidiu
implementar o recaatingamento nas comunidades de fundo de pasto. O projeto
surgiu da observação das mulheres que, com a criação de bode e extração do
umbu, perceberam que não estavam brotando plantas novas, tanto o umbuzeiro
quanto outras espécies nativas, tornando esse cenário uma ameaça para a
biodiversidade e para as atividades agroextrativistas.
O início desse projeto surgiu da
reflexão a respeito do uso do recaatingamento e não reflorestamento. O agrônomo
responsável, Luiz Almeida, esclarece que “as metodologias de reflorestamento
quase sempre são pensadas para áreas úmidas e subúmidas de outras regiões,
desconsiderando os aspectos do semiárido”.
O agrônomo explica ainda que a
arborização das cidades, principalmente, de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, usa de
plantas exóticas como: nin, ficus e eucaliptos. As espécies ocupam o lugar que
deveria ser da caatinga impactando diretamente no ecossistema como um todo.
“Por isso a ideia do recaatingamento; para a gente reafirmar o lugar da
caatinga como um espaço de riqueza e de biodiversidade”, afirma Luiz.
Na parede: Defender a convivência com o semiárido é defender a vida. |
Iniciado entre 2009 a 2010, o
projeto hoje possui 13 anos de funcionamento e aprendizagem. Atualmente, a
instituição trabalha com 35 comunidades, sendo
aproximadamente 14 municípios como: Jaguarari, Campo Formoso, Andorinha e
Mirangaba. Nas primeiras tentativas de
recaatingamento, foram utilizadas mudas, mas depois
de algumas falhas e observação das chuvas concentradas em tempo e espaço, esse
método foi descontinuado. Outras iniciativas que se adequam ao clima foram
adotadas, como o uso de dispersão de sementes, enriquecimento e recuperação do
solo para depois a incorporação dos métodos vegetativos de propagação.
As áreas em que o recaatingamento é
mais adequado são isoladas (cercadas), por volta de 50 a 80 hectares de terra
variando de acordo com a realidade das comunidades. Deve haver uma área isolada
que impeça a circulação de animais de criação como bode e vaca, fazendo com que
o solo descanse e a natureza tenha o devido tempo para se regenerar. O ideal é
que esse território fique isolado por 10 anos ou mais dependendo do interesse
da comunidade, pois é um processo lento, afirmou Almeida.
Algumas regras de convivência são estabelecidas para ter maior eficiência, como a proibição da caça, não queimar a área, ter prioridades em algum tipo de negociação de terra e entre outros. Com esse cuidado, é possível que animais nativos como o veado caatingueiro, o tatu-bola e o peba retornem a habitar o semiárido.
Plantio de Caraibeiras a busca preservar o bioma Caatinga. Foto: Aylla Bomfim. |
Manejo
Além de replantar, o IRPAA visa o
processo educacional para mudar a mentalidade e a concepção ambiental da
sociedade sobre a caatinga, mostrando que o cercamento pode trazer melhorias
futuras na renda e na alimentação, além de proporcionar uma melhor convivência
no semiárido. Nessa perspectiva, enquanto a área está isolada é apresentado à
comunidade o manejo sustentável, que envolve o manuseio correto do bode,
criação de abelhas e diminuição de rebanho (caso seja preciso). “Se você tem
mais caatinga em pé, você tem o animal mais gordo, uma melhoria produtiva e tem
mais alimento”.
A prática do cercamento visa reduzir também o impacto da extinção de insetos. “As comunidades sempre falavam que tinha determinadas abelhas, manduri, mandaçaia, moça branca, abelha branca, e não se tinha mais”. Isso porque com o declínio do solo, naturalmente ocorre a falta de diversidade dos insetos. Entretanto, ao notarem a recuperação da caatinga os povoados têm dado um feedback positivo e em decisão conjunta preferem manter os locais isolados mesmo depois do prazo estipulado para a regeneração da flora nativa. “Não vão mais abrir porque esses animais e insetos estão conseguindo voltar, estão ficando lá dentro”, declarou Almeida sobre a decisão.
Nano Bolhas
Além da preservação da flora e fauna
nativa é importante também ter o mesmo olhar voltado para o rio São Francisco,
sendo um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência de todo o
Vale. Além disso, possui um papel social, econômico e cultural. As águas são
usadas para geração de energia, agricultura, pesca e como fonte de lazer para a
população. No entanto, o mau uso desse recurso pode gerar esgotamento do mesmo,
visto que não é infinito.
Esse viés vai além da poluição ou problema ambiental, seus
impactos são financeiros e até de saúde pública. Parte das doenças mais
comuns no Brasil, as chamadas doenças de veiculação hídrica, podem ser transmitidas por água contaminada. As doenças de transmissão hídrica
e alimentar (DTHA) adoecem 1 em cada 10 pessoas no mundo, levando 420.000 a
morrerem todos os anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Desse modo, preocupado com a poluição do rio São Francisco,
um dos rios mais importantes em solo brasileiro, o ambientalista Victor Flores
juntamente com o IF Sertão decidiu usar a tecnologia da Nano Bolha, uma metodologia que realiza o
tratamento do rio através da eliminação de fragmentos que impedem a oxigenação
da água.
Equipamento Nano3. Reprodução G1 |
O mecanismo apelidado de Nano3 foi iniciado em 2016, sendo
desenvolvido/aprimorado em solo petrolinense e usa o ozônio como ativo
principal para a descontaminação. As partículas quase invisíveis das nano
bolhas transformam toda a poluição como vírus, bactérias e matéria orgânica em
radicais livres - fragmentos que podem ser eliminados rapidamente renovando a
oxigenação do curso de água.
Outro problema que pode causar ainda mais a degradação do
rio São Francisco é o Projeto de Lei n° 030/2023, aprovado em
Petrolina-PE, que visa reduzir as áreas de preservação às margens do rio para
apenas 100 metros. O ambientalista se posiciona criticamente “antes da gente pensar em reduzir, a
gente tem que ter leis que pensem em recuperar”.
A redução da orla coloca o velho
Chico em estado de vulnerabilidade e afeta diretamente as comunidades que
residem nesse local. “Poluem, desmatam e acabam com a biodiversidade, com os
recursos naturais e no final quem sofre são as pessoas mais vulneráveis, pois
dependem do rio para tirar seu sustento”, afirma Victor.
Um estudo do Instituto de Ciências
Atmosféricas (Icat) da Universidade Federal de Alagoas, constatou que, em 35
anos, o Rio São Francisco, maior reservatório do Nordeste, perdeu mais de 30
mil hectares de superfície com água, o que corresponde a cerca de 4% do seu
volume total. A preservação
desse recurso natural é essencial, pois é utilizada como meio de vida
de várias espécies vegetais e animais ou como fator de produção de bens de
consumo.