Parte III - “Sou o último comunista marxista-leninista de Juazeiro”

. 05 agosto 2010
Chegando a Salvador, o atleta até pensou que seria promovido. Mas lhe deram apenas mordomia, como costuma dizer. Ele não dava mais guarda, foi transferido do 1º BC para o Centro de Educação Física (CEF) e a única obrigação que tinha era continuar os seus treinos. “Tudo me deram, menos promoção. A polícia daquela época era comandada por famílias, meu sobrenome Lopes não tinha significado. Então, pedi que o Capitão Antônio me transferisse para O 3ºBC de Juazeiro”, diz João.
Na cidade natal, às segunda-feira ia sempre até a feira de Petrolina. Numa dessas idas, João relembra a primeira vez que viu o grande amor da sua vida. ”Eu fiquei batendo papo com uma menina branca, bonita, metida, inteligente e começamos a namorar. Esse namoro foi indo até que no dia a mãe dela nos flagrou no pontilhão. Ao saber do nosso envolvimento, ela foi ao 3ºBC dar parte de mim ao comandante”, relembra João.

Mesmo a contragosto dos pais da garota, o soldado continuou investindo no romance. Como a namorada pertencia a família Evangelista, umas das mais tradicionais de Juazeiro, todos eram contra a união. Repentinamente, um dia o recruta vai ao Juiz com a amada Valdinha pronto para casar-se com ela. O oficial de Justiça foi chamar a mãe dona Joaninha e passou um telegrama para seu pai Olímpico, que estava em Pirapora. Através de um telegrama do pai da menina, é enviada a autorização e o juiz realiza o casamento.

Segundo o regulamento do exército, da época, os soldados não poderiam se casar. Desta forma João Lopes fora excluído da Policia Militar do Estado da Bahia, por ter se casado civilmente. Após dez dias do casamento, o Capitão mandou dizer a Lopes que a Viação Baiana estava contratando comissários de bordo. Como ele tinha carta de comissário foi contratado para ir às viagens, ganhava apenas pela viagem, mas em terra não recebia.

Nesta época, houve um curso de comandante em Pirapora e o capitão dos Portos, Ciro da Fonseca, o inscreveu. A partir disso, ele ficava viajando como comissário de bordo tendo carta de comandante, porque ainda não tinha vaga para este posto. Foi quando João escreveu uma carta a Juraci Magalhães, governador do Estado, pedindo que, quando surgisse uma vaga, ele o nomeasse comandante. Em Juazeiro, todos torciam por ele e um dia sua mãe, autodidata e conhecida por suas rezas poderosas, disse-lhe que fosse a Salvador receber a sua promoção. Chegando à capital baiana, ele ficou sabendo que seu pedido fora atendido. Juraci Magalhães tinha lhe nomeado comandante da Companhia de Navegação do São Francisco.
Por: Juliane Peixinho
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